“Para esse ano [de 2024] estamos focados em fazer receita. Se 2022 foi um ano de construção, 2023 foi de crescimento”. As duas frases de Guilherme ‘PhoenixBR’ Nogueira resumem o atual momento do Flow Games, divisão de conteúdo sobre jogos eletrônicos (e outras coisinhas mais) do Grupo Flow, fenômeno nacional de produção de conteúdo, principalmente “casts” em áudio e vídeo.
Phoenix é sócio cofundador e CEO do Flow Games, que nasceu há pouco tempo, mas já acumula números elevados de audiência. O portal de notícias foi fundado em novembro de 2022, enquanto o canal de YouTube tem seis meses mais de história (foi lançado em maio do mesmo ano).
No YouTube, são 561 mil inscritos na data de publicação desse texto, um salto frente aos 300 mil no começo de 2023. O número de vídeos feitos também subiu – foram 240 ao longo do ano passado.
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“Em quase todas as métricas do YouTube a gente cresceu mais de 250%. Em views, comparando 2022 com 2023, a gente cresceu 300%. Em likes, que eu gosto de considerar porque é engajamento, a gente teve 274% a mais”, enumera o jovem executivo, que também apresenta parte dos vídeos.
No portal de notícias, foram 6 milhões de page views em janeiro último. Os números levaram a equipe do Flow Games a crescer de 10 funcionários no começo de 2023 para 26 no começo desse ano, sem somar os oito apresentadores – que atuam sem dedicação exclusiva e, na maioria, tem canais de conteúdo próprios.
“A gente fez bastante coisa. Só que ainda estamos caminhando para aquela conquista que é o crescimento financeiro. Estamos trabalhando para isso”, explica Phoenix em conversa com o The Gaming Era, sem revelar números de faturamento.
Atualmente o Flow Games recebe, claro, receitas oriundas das visualizações do YouTube e outras plataformas de conteúdo, mas também tem marcas anunciantes no site e para outros formatos. No entanto, reconhece o executivo, o canal também esbarra na crise do modelo de publicidade para conteúdo. “O mercado realmente está mais difícil ultimamente”, diz.
O Flow Games é apoiado comercialmente pela agência dos Estúdios Flow, chamada Golden Pill, e que atende não só os “programas da casa” como também clientes externos.
O CEO faz questão, no entanto, de salientar a importância da comunidade e dos assinantes, ou seja, da audiência que paga para apoiar o canal. “Quando o cara assina apoia diretamente o Flow Games. Essas coisas a gente tem para a comunidade apoiar o projeto”, explica Nogueira, que pretende aprimorar esse tipo de iniciativa.
“Queremos ampliar os benefícios para membros [apoiadores]. É uma forma que a gente busca de dar mais recompensas.”
Outra fonte possível de monetização estudada pelo Flow Games é o merchandising, ou seja, inserir a marca em produtos e serviços diversos. A empresa também faz parcerias com provedores de tecnologia que fazem sentido para o público gamer, como a feita recentemente com a aceleradora de conexão para players online NoPing.
O Guilherme Phoenix
Hoje com 27 anos, Phoenix começou cedo. Aos 14 já tinha uma carreira sedimentada como youtuber, produzindo vídeos sobre games para um canal próprio. Gravava, editava e fazia roteiros dos vídeos “por diversão”. “Em pouco tempo assinei um contrato e comecei a ganhar dinheiro. Era um trabalho, mas eu fazia como hobbie”, lembra.
Com o tempo foi entendendo como os algoritmos do YouTube funcionavam. Contratou uma equipe para melhorar a edição e publicação dos vídeos. Aprendeu sobre o mercado de influenciadores e games na prática, até que uma graduação na ESPM profissionalizou o conhecimento.
“Entrei na graduação de Sistemas de Informação em Comunicação e Gestão, que casou com o que eu buscava. Tinha um pouco de desenvolvimento de games, tinha muito marketing e gestão também. Foi perfeito para o que eu buscava”, conta.
Foi nesse período em que ele teve um problema sério de saúde, um acidente vascular cerebral aos 19 anos enquanto jogava Overwatch. Ele contou o episódio em uma conferência TEDx [ver abaixo]
Depois do curso, Phoenix fundou uma startup, a eMasters, uma plataforma de eSports que automatizava a criação de torneios online – e que faliu em 2020. Mais ou menos na mesma época, Phoenix passou a gerenciar a produção de conteúdo de influenciadores para a marca Xbox, da Microsoft.
“Foi um emprego muito legal, porque eu pisei fundo nesse negócio de representar. Fiquei um ano e oito meses no Xbox. Só saí quando recebi a proposta do Flow de ser head [de produto]”, conta.
Flow Games vs Monark Day
Enquanto projeto, o Flow Games nasceu dentro do Flow em 2021. Phoenix foi chamado para liderar a criação do produto, que era para ter sido uma vertical de organização de campeonatos, principalmente fighting games e Dota, além dos canais de conteúdo, incluindo um “Flow só de games”.
Mas tinha uma pedra no meio do caminho: o Monark Day, como ficou conhecido o dia em que Bruno Monteiro Aiub, o Monark, podcaster e sócio dos Estúdios Flow, declarou que “tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei”, durante entrevista com dois deputados federais.
A avalanche de repercussão negativa que se seguiu àquele dia 7 de fevereiro enterrou os planos do Flow Games, já que, em menos de uma semana, o Flow perdeu R$ 8 milhões em contratos de patrocínios, Monark foi demitido e a empresa terminou 2022 com R$ 2 milhões em prejuízos. O YouTube também bloqueou a monetização dos canais da marca.
“Uma empresa que tinha na época entre 80 e 100 funcionários não tinha mais renda. Entramos em estado de desespero”, lembra Phoenix. “Fizemos um monte de coisas, sobrevivemos. Hoje estamos bem. Mas o Flow Games, que ia ser investido do Flow, não podia mais nascer.”
Para fazer o projeto sair do papel, Phoenix, André Gaigher [então CEO do Flow e hoje conselheiro do Grupo] e Davy Jones [hoje diretor criativo do Flow Games, mas que naquele momento escalado para ser o apresentador] se uniram e propuseram uma sociedade para Igor Coelho, o Igor 3K, fundador, podcaster e hoje presidente do Conselho do Flow.
“Queríamos fazer um aporte e virar sócios. Era a única maneira do Flow Games sobreviver, porque ele ainda estava em um estado conceitual”, lembra Phoenix. Deu certo, e o projeto foi lançado em maio de 2022. “A gente começou o projeto para ser algo que acreditamos que hoje ainda não tem na indústria: um ecossistema de conteúdo de games.”
Jornalismo e influência
O Flow Games, enquanto canal, alterna debates descontraídos sobre games entre os apresentadores e convidados, no formato “mesacast”, com jornalismo – esse último presente tanto no portal como nos giros de notícia do canal. Há também lives para acompanhamento de eventos, incluindo grandes feiras e premiações do setor.
O portal é liderado pelo experiente Bruno Micali, ex-NZN, e é “um orgulho, cresceu muito em pouco tempo”, diz Phoenix. “Estamos chegando nos números do GameVício, o que é impressionante para um portal tão novo”.
O Flow Games News, no YouTube, em que os apresentadores comentam as notícias da semana, se tornou “o carro chefe” do canal, diz o CEO, com audiência média de 8 mil pessoas, “o que é impressionante para esse tipo de conteúdo”.
Para o executivo, parte do sucesso do canal se deve à sinergia entre os apresentadores e o tom mais descontraído do noticiário. Ele diz que ter influencers capitaneando o conteúdo traz mais personalidade ao conteúdo, e atrai a base de fãs de cada um deles.
“O criador de conteúdo cria um laço com a comunidade”, diz ele. “Temos cinco apresentadores: a Thais [Matsufugi], o Bruno [Micali], eu, o Davy [Jones] e o Cross [Jonathan Tomaz]. Somos muito diferentes uns dos outros. E a gente consegue concordar e discordar educadamente, tornando o papo mais sincero. E o público gosta disso.”
Plano de crescimento
Apesar do momento difícil para o mercado geral de games no mundo, Phoenix espera que o portal mantenha a média de crescimento experimentada nos dois primeiros anos. Para ele, o mercado brasileiro tem potencial de crescimento de público e receita.
A expectativa é, também, aumentar a equipe. “Claro que a gente quer gerar mais receita e aí começa a pensar em expandir. Mas acho que esse ano vamos ter outro momento de expansão, porque temos muitos projetos na cabeça”, diz o CEO.
Os planos incluem também aumento do espaço físico do Flow Games, para geração de mais conteúdo. “Estamos pensando em programas novos e melhorias nos programas antigos”, diz o CEO do Flow Games.