Quem foi dono de um console de videogame durante a década de 2010 provavelmente usou, em algum momento, o Compare Games. A proposta básica do site lançado em 2011 era, como bem diz o nome, comparar valores de jogos físicos e consoles em diferentes lojas. Gastar menos sempre foi um apelo importante para o consumidor brasileiro, e games eram (são?) caros.
O serviço se tornou popular naquela década. Era semelhante ao ainda oferecido pelos sites do hoje Grupo Zoom (incluindo o próprio Zoom, mas também os depois adquiridos Buscapé e Bondfaro, entre outros). O site, no entanto, não teve vida muito longa: foi desativado em novembro de 2020 por razões não reveladas, mas à época se especulava que a digitalização do mercado, o crescimento dos marketplaces, além da migração da distribuição de jogos de consoles para o formato digital, tivessem lá seu papel.
Fato é que a marca Compare Games foi comprada há cerca de três anos pela Vozão Games, varejista de jogos nascida em Assis, interior de São Paulo, e popular em marketplaces como a Shopee. O objetivo dos novos donos é relançar o Compare Games entre “o fim de novembro e a primeira quinzena de dezembro”, ou seja, nas festas de fim de ano, época mais aquecida do varejo.
Um vídeo com uma prévia da nova versão do Compare Games entrou no ar nessa quinta-feira (7).
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“Eu era usuário da Compare Games antes de ter a empresa. Quando inauguramos a Vozão em 2016, ele era um canal nichado de comparação com muita qualidade. Trazia essa questão da busca especializada para potencializar sites de varejo”, explica Leonardo Leme, CEO da Compare Games e cofundador da Vozão, em entrevista ao The Gaming Era. “Era uma boa experiência de usuário, de achar o melhor preço, mais as funcionalidades que a Compare entregava na época.”
A Vozão, conta Leonardo, abordou a Compare Games para fazer parte da plataforma pouco antes do anúncio do fim do site. “No meio da negociação eles interromperam as conversas”, lembra o agora dono do Compare Games. “Isso nos acendeu um alerta de oportunidade.”
Desde a aquisição, explica Leme, a equipe tem se dedicado a refazer o código da plataforma, considerado defasado. Todas as funcionalidades foram reconstruídas do zero, de modo a criar uma aplicação online que possa, no futuro, ser expandida, explica André Cilli, sócio e CTO da Compare Games. “Fizemos uma refatoração [do código]. A ideia é ouvir muito a comunidade para saber para que lado a gente vai”, diz.
A estratégia da empresa é fazer um lançamento menor, sem grandes ações de marketing logo de cara. Apesar de evitar chamar isso de “soft launch”, Leme diz que a estratégia cautelosa tem como objetivo aprimorar o produto antes de aumentá-lo. Primeiro, entregar o comparador de preços otimizado para a web e dispositivos móveis e, depois, agregar serviços que sejam “legais para o usuário e a comunidade”.
O lançamento no período de festas tem como objetivo justamente aproveitar o alto volume de transações para colher “o máximo de feedback possível”.
“Queremos colocar a plataforma no olho do furacão”, explica Leme.
Modelo de negócios
Outras funcionalidades do Compare Games do passado também devem voltar em novas fases. O CEO da empresa cita, por exemplo, gráficos de histórico de preços, dados de publicação detalhados dos jogos, um calendário de lançamentos, um feed com os principais sites de notícia do mercado, rankings, listas de desejos e outros.
“É um produto que sabemos que nunca vai estar pronto, e que muito pode ser feito, mas estamos propondo um relançamento com esse cuidado”, explica. “Queremos trazer muito da essência do site, que era aquele sentimento de comunidade e alma de especialista. Vamos entregar muito mais coisas.”
Mas, na essência, e ao menos logo de cara, o modelo de negócio da nova Compare Games é semelhante ao da velha: mostrar os melhores preços de games físicos e (no futuro também digitais) “de forma mais qualitativa”, explica Leme. As lojas que terão os preços comparados serão parceiras escolhidas, e o executivo garante que já há acordos firmadas com varejistas e com players da indústria, mas diz não poder revelar os nomes.
E garante que o fato de a Vozão ser a nova dona do Compare Games não vai interferir no comparador, nem privilegiar a loja em detrimento de outros varejistas. “Apesar de sermos donos da Compare e da Vozão, são empresas diferentes. Temos os mesmos sócios, mas são CNPJs diferentes e times também.”
Segundo ele, inicialmente os parceiros poderão se cadastrar para ter produtos exibidos na ferramenta. O CEO não revela o modelo de monetização do site, se limitando a dizer que vários deles estão sendo consideradas, inclusive rentabilização do tráfego no site (o chamado retail media).
Apesar do lançamento cauteloso planejado pela Compare Games, Leme diz que tem um planejamento de resultados de curto e longo prazo. “Como o mercado está mudando muito, queremos trabalhar com pé no chão e evoluir. Vamos reavaliando as fases a todo momento”, explica.
Pergunto se a migração do mercado de games para a distribuição digital não é um dificultador do negócio da nova Compare. Leme responde que essas mudanças foram e estão sendo consideradas. “No Brasil o mercado de [jogos] físicos ainda tem bastante lenha para queimar”, diz.
Vozão e Compare Games
Os donos da nova Compare Games são um desses players do setor de jogos brasileiro nascido em lugares (e de situações) inusitadas. A Vozão começou quando o casal Carla Canos e Leonardo Leme engravidou e precisou de mais dinheiro.
“Trabalhávamos em empresas separadas, e para ter uma renda extra começamos vendendo meu PlayStation 4 [modelo] fat usado. Ele era o ‘xodó’ da minha vida, mas como estava vindo minha filha precisávamos de grana, vendemos”, lembra o CEO da Vozão, que deu esse nome ao negócio em homenagem ao avô, José Francisco Leme, ou Seu Zé, como era conhecido, com quem Leonardo dividiu os controles durante a infância.
A primeira venda, feita em um grupo de Facebook, foi rápida, e Carla teve a ideia de investir em revender consoles seminovos. Como Leme já tinha experiência comercial, decidiu arriscar. Deu certo. E ele ainda tirava casquinha.
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“Entre a venda de um console e outro eu aproveitava para voltar a jogar”, lembra, rindo. “Naquela época algumas linhas de produto eram bem restritas no mercado. Começamos com os jogos físicos e criamos nosso site próprio em 2017”.
O negócio cresceu nos grupos de rede social, ganhou escala a partir do marketplace da B2W (hoje Americanas), aportou em outros grandes e-commerces e se tornou canal oficial de grandes publishers com presença no Brasil. Também ganhou sócios – além dos fundadores Leonardo e Carla (agora diretora administrativa), chegaram André Cilli (CTO) e Ricardo Marques (diretor de novos negócios). Todos são naturais de Assis, que ganhou a primeira (e por enquanto única) loja física da marca.
Segundo Leme, os canais em que a empresa atua são quase igualmente rentáveis, inclusive a loja. Agora, a empresa estuda abrir novos pontos presenciais em outras cidades do Brasil, embora o site seja o canal prioritário na estratégia do Vozão.
“O marketplace tem uma margem mais alta”, admite o CEO, “mas o foco é a nossa marca própria”.