Em minha coluna passada, me comprometi a aprofundar mais a discussão sobre a COP30 e seus efeitos na Indústria Criativa nacional, mas outro assunto atraiu minha atenção: os desdobramentos da guerra tarifária imposta pelos EUA contra parceiros comerciais nos mais diversos segmentos.
Durante as semanas em que preparei este artigo, muitas das promessas iniciais já haviam sido descartadas, e as discussões vêm retornando a patamares menos agressivos. Tudo isso pode, no entanto, mudar novamente até a publicação deste texto.
O setor de desenvolvimento de jogos é absolutamente globalizado, portanto não está imune a questões como essa. Ainda assim, entendo que nosso maior ponto de atenção vai além das tarifas sobre produtos específicos.
Devemos estar atentos à possibilidade de uma recessão econômica global, desencadeada por essas disputas comerciais entre as nações.
Os consumidores seguem apaixonados pelos jogos, mas é inegável o aumento no número de pessoas que têm enfrentado dificuldades para continuar jogando, graças aos preços cada vez mais altos. Como desenvolvedores, precisamos continuar crescendo e buscando mercados, sempre conscientes de que fazemos parte de uma cadeia global, onde tudo o que afeta o mundo, nos afeta diretamente.
Desde o fim da pandemia — período em que, ao contrário de muitos outros segmentos, os jogos eletrônicos registraram forte crescimento — temos vivido uma espécie de ressaca. As grandes produções se tornaram mais raras, os investimentos diminuíram, os profissionais se sentem ameaçados pelo avanço da inteligência artificial, e temos assistido a demissões em massa entre os principais players do mercado.
Na minha visão, essa crise enfrentada pelo entretenimento digital nos últimos três anos é mais preocupante do que as ameaças tarifárias vindas do presidente Trump.
Entrei nesse mercado há 18 anos e lembro bem do choque que tive em uma das minhas primeiras viagens a São Francisco, em 2011. Conversando com um desenvolvedor experiente — e bastante pessimista — ele me disse: “O mercado de jogos está colapsado, já era.”
Aquilo não foi fácil de ouvir, especialmente porque eu estava iniciando meu estúdio, cheio de sonhos. Mas aqui estamos, em 2025, e os jogos não apenas sobreviveram a muitas crises, como cresceram e se tornaram o maior segmento dentro do entretenimento.
O que penso sobre tudo isso? O Brasil precisa investir ainda mais: criar estúdios, formar profissionais e desenvolver políticas públicas que incentivem o crescimento e a internacionalização dos nossos criadores. Existe uma tendência de que os grandes investimentos sejam pulverizados e redistribuídos entre diversas iniciativas menores.
Quem sabe estejamos prestes a testemunhar uma primavera dos estúdios independentes ao redor do mundo. O Brasil precisa fazer parte disso — e a hora de agir é agora, no meio de mais uma crise.