Cunhado pelo CEO global da Intel, Pat Gelsinger, junto com o lançamento dos processadores Core Ultra, o termo AI PC abarca uma nova geração de computadores pessoais que simboliza o ápice da estratégia da fabricante americana, chamada de AI Everywhere (ou IA em todo o lugar). Mas, como fica claro conforme se desvelam os planos da empresa, as vendas de PCs dessa categoria dependem fortemente de aplicações (incluindo games) que utilizem a capacidade real desses processadores.
Em evento realizado pela Intel com jornalistas e influenciadores nessa terça-feira (5), executivos brasileiros da empresa deram detalhes sobre esses planos. Primeiro, definindo do que se trata o tal IA PC: um computador pessoal com processador (mas é claro), GPU e NPU (unidade neural dedicada à inteligência artificial) rodando workloads nas três instâncias.
O The Gaming Era já explicou do que se tratam as NPUs nessa entrevista, e de que forma esses “pedaços” dos processadores podem ser usados para rodar IA e beneficiar o desenvolvimento de games, ou mesmo os jogos em si. Mas, ao menos por enquanto, os grandes usos são em aplicações de outros tipos.
O Copilot, da Microsoft, que ainda roda inteiramente na nuvem na maioria dos computadores com Windows 11, é um exemplo mais óbvio. A aplicação rodará localmente em breve, mesmo em computador offline – desde que conte com processador com NPU dedicada, diz a Intel. Mas há outros fabricantes desenvolvendo recursos já de olho nesse núcleo neural dedicado, incluindo Adobe, Cisco, Zoom e outras.
Programa de aceleração
Catalisar o desenvolvimento de aplicações que de fato se valham da NPU dos processadores é o segundo pilar. A Intel tem um programa de aceleração para desenvolvedores de software terceiros (chamados no mercado de ISVs), e que pode ser acessado inclusive por estúdios de games. São mais de 100 empresas de software dentro do programa, com mais de 300 aplicações esperadas.
Um slide apresentado pela Intel cita empresas e produtos dentro do programa de aceleração, sendo um deles de laços profundos nos games: o Unreal, da Epic Games. Prenúncio de que a motor gráfico da dona de Fortnite será em breve acelerado por núcleos de processamento neurais?
O logo da Tencent também aparece na imagem, mas não fica claro que tipo de uso de NPU a gigante chinesa está testando no momento.
“Estamos trabalhando muito próximo dos ISVs. É o software que vai trazer de fato a alma para essa experiência [de IA no PC]. O casamento de hardware e software é que vai trazer uma experiência melhor para o usuário”, disse no encontro Ricardo Lopes Ferraz, diretor da unidade de PCs da Intel no Brasil.
Experiência como métrica
O executivo diz que, nas gerações anteriores de processadores, a medida do sucesso de um produto era a da performance. Ou seja, quanto mais poderoso um processador, melhor ele era. Mas agora é diferente, diz ele, porque o que importa para o usuário é a experiência de uso com a IA.
“Por isso é tão importante trabalhar com o ecossistema. Se eu não consigo trazer aplicações que façam a diferença, não adianta nada”, diz ele. “Nossos concorrentes não têm a vontade de trabalhar com o ecossistema que nós temos.”
Apesar disso, o programa de aceleração para desenvolvedores ainda não tem uma versão brasileira. Quando perguntado pelo TGE, Ferraz assegurou que ele será lançado por essas bandas, mas não disse quando, apenas que “está em estudo”. Outros executivos da Intel presentes me asseguraram que, de todo modo, os devs brasileiros, inclusive estúdios de games, podem procurar recursos da Intel alocados nos EUA.
“[O programa] está mais concentrado nos EUA e expandindo para a Ásia. Queremos trazer para cá, já que temos a quinta maior comunidade de desenvolvedores de código aberto no mundo”, disse Ferraz. “Estamos pensando em como trazer isso para o Brasil.”
AI PC: vender e vender
A meta de vendas da Intel para computadores com processadores Core Ultra é de 100 milhões de unidades até 2025, somados os mercados de consumo e corporativos. Segundo a fabricante, esse volume elevado vai atrair os desenvolvedores para que adaptem seus produtos para utilizar plenamente a arquitetura Meteor Lake.
Um estudo do Boston Consulting Group mencionado pelos executivos da Intel estima que até 2028 cerca de 80% dos lançamentos no mercado de computadores terão IA embarcada no hardware. “A [consultoria] Canalys diz que serão 60% até 2027, ou seja, é um crescimento exponencial.”
Outro pilar para essa estratégia de crescimento da Intel é apoiar o lançamento de produtos por parte dos parceiros de fabricação, chamados de OEMs (Original Equipment Manufacturer). Um vídeo mostrado pela Intel trouxe depoimentos de executivos de vários desses fabricantes – multinacionais como Asus, Dell, Lenovo e Acer, mas também nacionais como Positivo, Daten (dona da NAVE) e Avell.
A Intel espera lançamento do AI PC no Brasil ainda no primeiro semestre de 2024. “Estamos conseguindo trazer esses produtos muito rapidamente para o mercado brasileiro”, diz Ferraz. Outros executivos ouvidos pelo TGE durante o evento explicaram que esse ganho de velocidade se deve à esforços de importação de produtos por parte da própria Intel junto aos parceiros.
A expectativa é que o mercado brasileiro seja responsável por grande parte das vendas de processadores Core Ultra no mundo, principalmente no mercado corporativo. A Intel espera que o parque de computadores nacional seja renovado nos próximos anos, após declínio nas vendas em 2023.
“Somos o quarto maior mercado do mundo em consumo de PCs, o que nos torna muito relevante”, disse o diretor da Intel.