Antes do Switch 2, a Nintendo nunca havia demorado tanto para lançar uma nova geração de consoles domésticos (ou “de mesa”). Entre o pioneiro Color TV Game, de 1977, e o Famicom, em 1983, se passaram longos seis anos. Do Famicom até sua versão Super, foram mais de sete. A partir daí, em tempos cada vez mais acelerados, a Nintendo nunca havia levado mais de seis anos para mostrar o sucessor de sua máquina de fazer dinheiro (às vezes, nem tanto dinheiro assim).
Lembrando: do Super Famicom/NES (1990/1991) ao Nintendo 64 (1996), foram cinco anos e meio; deste ao GameCube (2001), pouco mais de cinco anos. Para o Wii (2006), foi a mesma coisa. O console com sensor de movimentos deu tão certo que só obrigou a Nintendo a lançar o sucessor, Wii U (2012), seis anos depois. Este, porém, sofreu com as baixas vendas e acelerou o Switch, que saiu em março de 2017, meros quatro anos e quatro meses depois do anterior (que logo antes parou de ser fabricado).
Agora, entre o Switch e sua versão 2 (já foi mais criativa, Nintendo!), previsto para o próximo 5 de junho, passaram-se mais de oito anos. É uma eternidade em se tratando de Big N e do mundo alucinado por inovações no qual vivemos.
Pelo menos, a empresa japonesa é honesta no novo naming: o Switch 2 é apenas um belíssimo upgrade técnico em relação ao hardware anterior. As melhorias gráficas serão palpáveis e aparentes, e novos recursos, como o Joy-Con que serve como mouse e o suporte a câmera, oferecem experiências com cheiro de antigo para os nintendistas de carteirinha, mas adaptadas para as realidades atuais.
Parece óbvio que qualquer um dos 150 milhões de compradores do Switch 1 vai querer ao menos experimentar o que a máquina tem a oferecer. O problema: será caro. Muito mais caro do que boa parte dos consumidores mais jovens já experimentaram em se tratando de Nintendo.
Porém, há certa falácia na afirmação de que “a Nintendo nunca lançou um console tão caro”.
Numericamente, é até verdade: antes dos US$ 449 do Switch 2, a máquina mais cara tinha US$ 349 na etiqueta – a versão OLED do Switch, um upgrade bastante opcional em se tratando de experiência de jogo.
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Agora, caso os valores sejam reconfigurados considerando a inflação em mente, os preços dos consoles antigos nem parecem tão acessíveis. Basta dizer que os US$ 199 cobrados pelo NES em 1985, uma pechincha para os tempos de hoje, representaria quase o triplo no dinheiro atual (US$ 584 – veja mais comparações aqui).
Os jogos também estarão mais caros, e é daí que vieram as críticas mais duras: o novo Mario Kart sairá por US$ 80 em sua versão digital, e há quem pense que custará mais 10 dólares em sua versão física. Ouch! Lembrando que o Zelda mais recente custou inéditos US$ 70 em 2023, o que por si só causou debates e reclamações.
Switch 2: preço e vendas
Oitenta dólares (ou mais) por um game AAA é um preço alto, disso ninguém tem dúvidas. Analisando o console, será que US$ 449 seria assim tão caro pelo Switch 2?
A resposta também é sim, pelo menos na opinião dos analistas que esperavam por 400 como o preço “ideal”. Isso considerando que o Switch original foi lançado a US$ 299 oito anos atrás (US$ 391 com a inflação de hoje). O problema é que não estamos em 2017, e cada centavo desse bagunçado 2025 está valendo muito menos nos bolsos das pessoas – e isso não é só no Brasil.
Ah, sim, o Brasil. A Nintendo of America, que cuida da representação da marca em nosso País, ainda não revelou o preço do novo Switch em nossa moeda, e nem mesmo oficializou a mesma data de lançamento. Mas pensando que o Switch 1 oficial chegou por aqui mais de três anos depois, custando o equivalente a US$ 550 da época (R$ 2999), é difícil crer que teremos um lançamento rápido, muito menos ”barato“.
Eu chuto R$ 3.999 pelo console “pelado” e R$ 4.499 pelo bundle com Mario Kart World, em algum momento do segundo semestre desse ano. Mas esse sou eu bastante otimista.
O preço alto padrão vai atrapalhar as vendas esperadas pela Nintendo? Muito provavelmente. Mas não será o único desafio que a fabricante japonesa encontrará nos próximos meses.
Por um lado, a dificuldade de encontrar o produto nas lojas será confundida com sucesso de vendas. Se vai vender menos unidades, será porque a Nintendo não terá como inundar o mercado com o Switch 2, pelo menos no primeiro momento. A produção deverá sofrer com escassez de recursos e aumentos de preços de insumos, que por sua vez tem tudo a ver com a bizarra política de tarifas comerciais do governo norte-americano, que influencia diretamente no valor final para o consumidor.
Como resultado imediato, aliás, a Nintendo adiou a data de estreia de seu sistema de pré-vendas nos EUA, alegando a necessidade de “avaliar o impacto potencial das tarifas e das condições de mercado em evolução”. É uma bandeira vermelha notável.
Poder de compra em ruínas
Diante desse cenário inédito e um tanto confuso, a conclusão não é menos triste: videogames, assim como muitos outros bens de consumo mais essenciais, estão (e continuarão) mais caros no planeta.
O fato é que, mais do que nunca, gastar US$ 500 em um console com um único jogo não parece um movimento natural para a maioria dos entusiastas de videogames. E nada parece indicar que iremos para a direção contrária.
Pode ser que a Nintendo surpreenda com algum tipo de explicação ou redução significativa de preços? É difícil. Além disso, também me parece que a empresa esteja repetindo com o Switch 1 e 2 o que fez com o Wii e o Wii U: estendendo o sucesso com um upgrade básico para ganhar fôlego até a próxima grande ideia disruptiva aparecer.
Isso indica que a aguardada revolução estilística da Nintendo só chegará na próxima geração, antes da virada da próxima década. Se for este o caso, já sabemos: não será barato para o jogador.
No mais, o que deveria ser um dos grandes momentos do mercado em 2025 resulta em uma conclusão melancólica para quem acompanha esse cenário há tanto tempo: jogar videogame de ponta será cada vez mais um hábito elitista, e a indústria mainstream não terá muito o que fazer para mudar essa situação.
E o azar é todo nosso.