Esta é minha primeira coluna no The Gaming Era, e estou muito feliz por poder contribuir com meu conhecimento e experiência para fortalecer ainda mais a indústria de games, tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Meu objetivo aqui será sempre compartilhar estratégias práticas e insights relevantes sobre negócios no mercado de jogos digitais.
Hoje quero abordar três importantes modelos de negócio que vêm demonstrando resultados consistentes no mercado brasileiro: Crowdfunding e Early Access; Desenvolvimento Próprio com Publicação Internacional; e Serviços Criativos. Também destaco como processos estruturados de incubação e aceleração são essenciais para o crescimento dos estúdios.
Crowdfunding e early access: validação antecipada e engajamento
Para alguns estúdios que desejam realizar a publicação dos seus jogos sem terceiros, o modelo de crowdfunding [financiamento coletivo] e early access vai além de simplesmente financiar um projeto. Ele é uma ferramenta poderosa para validar ideias e criar comunidades engajadas, mesmo antes do lançamento oficial.
Plataformas como Kickstarter e Steam Early Access permitem captar recursos diretamente do público, transformando os jogadores em verdadeiros parceiros desde o início do projeto. Além disso, o desenvolvedor consegue naquele momento perceber alguns comportametnos dos jogadores e realizarem ajustes no jogo antes de um lançamento gloal.
No Brasil, muitos estúdios utilizam essa estratégia não só para garantir orçamento inicial, mas também para obter feedback crucial sobre gameplay, mecânicas e posicionamento de mercado, ajustando rapidamente o produto às expectativas reais do público.
Para alcançar sucesso nessa modalidade, é fundamental desenvolver competências em comunicação constante, transparência e gestão de comunidade, aspectos que podem ser potencializados por meio de processos estruturados de incubação e aceleração.
Desenvolvimento próprio com apoio em publicação internacional
Criar propriedade intelectual própria (IP) e buscar publicação internacional é uma estratégia ousada, mas que oferece grande potencial de retorno. Apostar desde cedo na internacionalização significa acessar mercados com maior receita, conquistar reconhecimento global e abrir portas para novas oportunidades comerciais.
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Entretanto, é importante destacar um aspecto crítico: já presenciei diversos casos em que estúdios, por fragilidades jurídicas, acabaram enfrentando problemas na negociação com publishers ou na proteção de suas criações. Questões como contratos mal redigidos, ausência de registros adequados ou desconhecimento sobre propriedade intelectual podem comprometer o sucesso e até inviabilizar acordos.
Por isso, estúdios que seguem esse modelo precisam ter uma compreensão clara sobre negociação de contratos internacionais, divisão de royalties, gestão de localizações e adaptação cultural. A capacitação dos estúdios e empreendedores para negociações internacionais complexas mitiga consideravelmente o risco em relação aos acordos realizados.
Serviços criativos: outsourcing e co-development como pilares de estabilidade
Para estúdios que buscam maior previsibilidade financeira, o modelo de prestação de serviços criativos, outsourcing e co-development é uma excelente alternativa. O Brasil tem se destacado no mercado global fornecendo serviços como arte, animação, programação e porting para empresas internacionais.
É importante reconhecer que este modelo tem raízes históricas sólidas no País. A Playlore foi uma das pioneiras brasileiras nesse campo, desbravando o mercado de serviços criativos e ajudando a estabelecer um caminho para outros estúdios que viriam a seguir.
Hoje, exemplos como a Diorama e a Webcore ilustram bem como o Brasil se consolidou como um polo de referência na prestação de serviços para a indústria global de games, entregando uma diversidade de serviços que vão desde arte e animação até desenvolvimento técnico e suporte especializado via porting e outros.
Esses estúdios não apenas executam demandas, mas também participam ativamente da concepção criativa de projetos, ampliando sua atuação e relevância no mercado internacional.
Nesse contexto, o papel das aceleradoras é novamente crucial. Elas auxiliam estúdios a desenvolver técnicas avançadas de negociação, estruturação, precificação e estratégias comerciais competitivas internacionalmente, preparando-os para atuar em grandes projetos e estabelecer parcerias duradouras.
Incubação e Aceleração: apoio estratégico para a evolução dos estúdios
Os processos de incubação e aceleração desempenham um papel fundamental no fortalecimento e amadurecimento dos estúdios, principalmente na profissionalização da gestão e na inserção internacional.
Em Pernambuco, por exemplo, iniciativas de incubação como a promovida pelo ITEP (Instituto de Tecnologia de Pernambuco) foram responsáveis por impulsionar diversos negócios criativos, como a PUGA Studios, empresa da qual fui sócio e CEO, e que foi vendida para um grupo internacional. Processos de incubação evidenciam o impacto positivo de estruturas que oferecem apoio, capacitação e conexão com o mercado.
Atualmente, o Brasil conta com programas promissores de aceleração, como a Aceleradora da Brazil Games, iniciativa da Abragames com a ApexBrasil, e a Indie Hero, que vêm se destacando por fomentar o desenvolvimento de estúdios independentes. Ambos os programas ainda estão em fase inicial, mas oferecerão suporte especializado em negócios, marketing e internacionalização, consolidando-se como importantes plataformas para a evolução dos estúdios brasileiros.
Essas estruturas proporcionam aos estúdios uma base sólida para atuação competitiva global, contribuindo para que modelos de desenvolvimento próprio ou prestação de serviços sejam executados com maior segurança e eficiência.
Escolha estratégica: modelos de negócio ideais para seu estúdio
Na prática, não existe um modelo único que sirva para todos os estúdios. Muitos optam por uma estratégia híbrida: utilizar a prestação de serviços criativos para gerar receitas consistentes no curto prazo, validar novos projetos através de crowdfunding e early access, enquanto desenvolvem IPs próprias com foco na internacionalização e crescimento de longo prazo.
O mais importante é compreender em qual estágio o estúdio se encontra e alinhar os modelos de negócio às competências internas, aos objetivos financeiros e ao mercado desejado.
Jogos podem até nascer do talento criativo, mas negócios bem-sucedidos nascem de decisões estratégicas e planejamento inteligente.