Lula veta abatimento de IR para investimentos em indies brasileiros. Associações reagem

Abragames pretende questionar veto no Congresso. Faltou estudo de impacto orçamentário no Marco Legal dos Games, diz Presidência
Marco Legal dos Games, Lula
O presidente Lula. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil

O Marco Legal dos Jogos Eletrônicos, sancionado na última sexta-feira (3) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi publicado nessa segunda-feira (6) no Diário Oficial da União com apenas um veto – mas um veto importante. O trecho cortado foi o que concedia abatimento de 70% do imposto de renda nas remessas de empresas estrangeiras ao exterior, contanto que elas investissem em jogos brasileiros independentes.

Em despacho da Presidência publicado na mesma edição do DOU, e endereçada ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o órgão justifica que o veto ocorre por “inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público”. Isso porque, segundo a Presidência, não houve “apresentação da correspondente estimativa do impacto orçamentário e financeiro”, conforme previsto em lei.

O texto segue dizendo que o texto também não institui “medidas de compensação”, nem prevê “prazo máximo de vigência”, nem apresenta “demonstrativo do impacto orçamentário e financeiro para os exercícios financeiros de 2024, 2025 e 2026”.

O veto vem em um momento em que o Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, luta para “fechar no azul” as contas do governo no próximo ano. Há, inclusive, uma tensão com o Congresso em torno do tema.

O artigo vetado por Lula alteraria a chamada Lei do Audiovisual, e previa o seguinte, segundo o texto aprovado na Câmara dos Deputados:

“Os contribuintes do imposto de renda incidente nas remessas ao exterior de remunerações oriundas da exploração de jogos eletrônicos ou de licenciamentos decorrentes de jogos eletrônicos no País poderão beneficiar-se de abatimento de 70% (setenta por cento) do imposto devido, desde que invistam no desenvolvimento de projetos de produção ou coprodução de jogos eletrônicos brasileiros independentes.”

O veto ainda será analisado por deputados e senadores e pode ser derrubado, mas não há data para a sessão.

Veto técnico

Para Rodrigo Terra, presidente da Associação Brasileira de Empresas Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos, a Abragames, o veto “não era esperado”. No entanto, segundo ele, a justificativa dada pelo governo para tal é técnica, ou seja, ocorreu “por falta de alguma informação”. Ao TGE, ele diz que a entidade está “trabalhando para esclarecer quaisquer ponto que possa ter ficado aberto e trabalhar no legislativo se assim for preciso”.

Terra reconhece que o veto traz sim um impacto sobre os incentivos previstos no Marco Legal dos Games, pois ele desfalca “o conjunto de ações estruturantes para o setor”.

“O próximo passo da Abragames é questionar o veto e ajudar o Congresso Nacional com as informações necessárias para que possamos debater sobre ele”, disse o presidente da Abragames, que admite um pouco de frustração com o veto. “Mas isso não tira a importância que o Marco tem, com certeza.”

Márcio Filho, presidente da Associação de Desenvolvedores de Jogos Digitais do Estado do Rio de Janeiro (RING), começa o posicionamento enviado ao TGE concordando com o colega da Abragames: “Primeiramente é importante ressaltar que nós celebramos a aprovação como um todo, é uma avanço significativo para o Brasil”.

Sobre o artigo vetado, diz que ele era “uma das formas de sustentabilidade econômica do projeto” e deveria ser mantido. E que agora a associação deve “reforçar o diálogo para esclarecer os fundamentos, propostas e viabilidades em defesa da manutenção do texto completo, para resguardar o desenvolvimento do setor”.

O executivo da associação carioca chama atenção para um aspecto adicional: se games agora são reconhecidos como audiovisual, “os mecanismos de fomento precisam ser mantidos dentro da mesma lógica de reconhecimento diante das políticas públicas, respeitando a constitucionalidade e legalidade.”

* com apoio do portal Drops de Jogos
** texto atualizado às 12h30 para inclusão do posicionamento da Abragames
*** texto atualizado às 14h10 para inclusão do posicionamento da RING

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