Triste coincidência: no mesmo dia em que o icônico passaralho da Loading completou quatro anos, toda a redação do Nerd Bunker foi demitida, conforme as próprias pessoas envolvidas relataram em redes sociais. A promessa do veículo é de reestruturação e início de uma nova fase, mas o padrão é reconhecível e me preocupa.
Nos últimos anos vimos outros veículos jornalísticos com foco em cultura pop trilhando caminhos parecidos e os resultados são os mesmos: profissionais competentes ficando sem emprego, poucos veículos estruturados cobrindo o mercado e cada vez menos informações confiáveis e de qualidade.
Acho o cenário complexo e vejo que passa por muitas questões diferentes. Por exemplo, a pressão das big techs para adotar de forma absoluta ferramentas de inteligência artificial contribui muito para isso, resultando em vagas com condições que forçam profissionais veteranos a aceitarem menos do que valem. Ou aceleram a entrada de novos profissionais no mercado, comprometendo a formação e aprendizado dessas pessoas.
Ferramentas de IA podem sim ser aliadas poderosas para apuração e criação de conteúdo, mas, para mim, são tão importantes quanto uma calculadora ou um dicionário: são suportes para o trabalho das pessoas, não são peças para substituir totalmente os seres humanos.
Tem muito mais que pode ser dito sobre a situação (inclusive, a jornalista Maria Eduarda Cury publicou uma reflexão muito boa sobre isso no LinkedIn), mas em linhas gerais eu sinto que há uma desconexão enorme e de longa data entre editorial e comercial.
Historicamente, jornalista não é preparado para saber vender seu conteúdo, não tem um histórico acadêmico para isso. O foco total é na formação ética para apurar e divulgar informações. Um objetivo bonito, mas utópico, que implica uma sociedade que vê o valor pleno na informação de qualidade – o que, infelizmente, vem deixando de ser realidade há anos.
Felizmente, há bons exemplos de pequenas comunidades se formando de forma saudável e sustentável, que sinalizam para novas alternativas. Na falta de grandes empresas que valorizem e financiem a produção de conteúdo de qualidade e confiável, as pessoas estão começando a financiá-lo diretamente.
Para ficar no campo dos games e cultura pop, onde atuo há mais de 20 anos, fico muito feliz de ver projetos como o Jogabilidade e o X do Controle, formados por amigos e profissionais que admiro muito e representam para mim um necessário sopro de novidade e frescor no mercado.