Gustavo Steinberg: Gamescom Latam vai superar US$ 150 mi em negócios

Segundo CEO do BIG Festival e Gamescom Latam, foco no B2B continua e evento é vitória da indústria nacional
Gustavo Steinberg, Gamescom Latam
Gustavo Steinberg. Foto: Divulgação, BIG Festival

A Gamescom Latam de 2024 é, ao mesmo tempo, inédita e fruto de uma construção de mais de uma década. Afinal, a chegada ao Brasil da feira de games alemã – a maior do mundo em volume de público – acontece graças a uma união com o BIG Festival (Brazilian Independent Game Festival), que chega a sua 12ª edição com um recorde de estúdios independentes inscritos e uma expectativa de geração de negócios superior a US$ 150 milhões.

Esse montante foi justamente o valor registrado no BIG de 2023, segundo o CEO do BIG Festival e da Gamescom Latam, Gustavo Steinberg, em entrevista exclusiva ao The Gaming Era. Apesar de não relevar o número de estúdios inscritos para o festival de games independentes desse ano – “foi bem mais do que ano passado”, assegura o executivo –, a expectativa é ter mais games brasileiros entre os finalistas.

“Temos cada vez mais brasileiros”, diz. “Eles estão ficando melhores, e a gente não baixa a barra.”

Quando peguntado sobre a possibilidade do BIG Festival ser “engolido” pela Gamescom e se tornar uma feira voltada para o público final, o executivo nega categoricamente. “A estratégia é a indústria, óbvio”, assegura ele, mas não sem um porém. “Mas não tem como sustentar esse negócio sem o B2C, sem os ingressos. É ele [o B2C] que faz virar o B2B e subsidia o crescimento”, ressalta.

Leia os melhores momentos da conversa:

The Gaming Era: O lote especial de ingressos para a Gamescom Latam se esgotou em 20 minutos. É um sinal de interesse alto pelo evento?

Gustavo Steinberg: A gente não estava preparado [para a venda tão rápida]. Eu esperava vender o lote durante o dia, mas em 20 minutos… Foi meio no susto. Tem a força do nome [Gamescom], mas já estávamos comunicando o evento há bastante tempo. E tinha a pressão nas redes sociais.

Agora estamos nos concentrando em vender o ingresso social, que qualquer um pode comprar. Está R$ 95. No ano passado foi R$ 60 a inteira, mas é caro fazer um evento assim. Espero sim que a venda rápida reflita um interesse [sobre o evento como um todo].

Acho que existe uma construção. Não é que a gente vai nascer no primeiro ano da Gamescom, estamos no 12º ano da BIG. Existe uma construção, um trabalho, uma expansão mais para o lado do B2C [consumidor final] desde 2022. Foram 20 mil pessoas [no BIG], ano passado 50 mil.

É um evento muito bem-avaliado. Claro que agora temos a joint-venture com a Gamescom.

TGE: Aproveitando o tema preço: você acha que alcançaram um valor de ingresso realmente acessível?

Steinberg: Com certeza, proporcionalmente a outros eventos. É um preço bem razoável. O problema é que o crescimento de custos de um pavilhão [como o São Paulo Expo, em que o evento será realizado] é exponencial.

Sim, temos uma preocupação de ter o evento o mais acessível possível. É por isso que criamos o ingresso social e fizemos um estudo de impacto de preços e custos. E estamos tentando manter o mais baixo possível.

Mas é difícil, viu cara. As pessoas reclamam, mas o ingresso do cinema está R$ 40 e você passa uma hora e meia lá. Na Gamescom você pode passar 10 horas e jogar 300 jogos. É desproporcional.

TGE: Você disse que é um evento caro. Quanto vocês estão investindo na Gamescom Latam e na BIG desse ano?

Steinberg: É caro para caramba. (Risos) Mas buscamos um equilíbrio entre espaço e custos que não é fácil. E estamos em um momento de transição. Em 2019 tínhamos 2.500 m². Esse ano serão quase 30 mil m². O evento virou outro bicho.

big festival 2023, reunioes de negocios
Reuniões de negócio durante o BIG Festival de 2023. Foto: Divulgação

Do ponto de vista de escolhas e objetivos, continuamos com o mesmo DNA. Mas agora é um público muito maior. Quando começamos lá no Centro Cultural São Paulo [segunda sede do BIG Festival entre 2014 e 2018], lá tinha tudo. Em pavilhão não tem nada, nem água. Cada coisa que se coloca é um preço bastante expressivo.

Estamos buscando um equilíbrio entre conteúdo, no sentido de que é preciso ter um conteúdo excelente, e patrocínios. Mas o nosso plano é de médio prazo. Estamos investindo.

TGE: A Gamescom é uma marca alemã. Como tem sido o trabalho conjunto entre os sócios do evento?

Steinberg: Eles têm uma visão muito parecida com a nossa. E por isso que deu match. É um evento B2B [para negócios] e B2C [para o consumidor final]. Tem uma forte ligação, lá mais ainda, com a associação nacional de desenvolvedores de jogos.

O evento no Brasil é um acordo entre quatro partes – BIG, Omelete [que é sócio do BIG desde 2022], game [associação alemã dona da marca Gamescom] e da Koelnmesse [operadora alemã de eventos]. Todos têm expectativas diferentes, mas no geral está sendo muito legal.

A Koelnmesse é uma empresa de 100 anos de idade que faz 80 eventos internacionais, dona de um pavilhão [em Colônia, na Alemanha] quatro vezes maior que o São Paulo Expo. São desafios operacionais normais de integração, e ao mesmo tempo preservando objetivos regionais.

A gente tem um objetivo a mais, que é desenvolver a indústria brasileira. Para gente é um nível diferente da Alemanha, o mercado de lá é mais maduro.

As possibilidades são muito boas. É uma conquista do BIG, mas também da indústria. E eu entendo meu papel, que é fazer escolhas que não são simplesmente ganhar dinheiro. Meu papel é de condutor, catalisador da indústria para a região. Trazer a Gamescom para a região não é trivial, nos diferencia do resto do mundo.

TGE: Desde que a Gamescom Latam foi anunciada existe esse burburinho sobre o fim do BIG Festival, e sobre uma possível diminuição do foco sobre os estúdios brasileiros em detrimento do público geral. Sua resposta me faz supor que não é o caso.

Steinberg: Para toda decisão que tomamos no passado falaram isso. Já faz uns seis anos que o BIG acabou. (Risos) E minha resposta é sempre “vai lá e vê”. O B2B só cresce. Os dois [B2B e B2C] crescem juntos. O evento tem cada vez mais publishers, empresas e oportunidades de negócios.

Foram US$ 150 milhões em oportunidades de negócio gerados no BIG do ano passado. A estratégia é a indústria, óbvio. Mas não tem como sustentar esse negócio sem o B2C, sem ingressos. É ele [o B2C] que faz virar o B2B e subsidia o crescimento.

TGE: Qual a meta de negócios gerados para a edição de 2024?

Steinberg: Não sei. Mas vai crescer. Mas vou ser leviano se te falar um número.

TGE: E as inscrições de estúdios indie para o BIG Festival? Superaram as expectativas?

Steinberg: Superou bastante a expectativa. A gente ainda vai segurar os números, mas foi bem mais que ano passado. Foram [quase] 630 em 2023. Desses a gente seleciona 100 para a competição, vai ser o mesmo esse ano.

É uma competição internacional. Temos cada vez mais brasileiros, mas eles estão ficando melhores, e a gente não baixa a barra.

Fazemos também o panorama, que é uma mostra não-competitiva de games, entre aqueles que não conseguiram entrar [no BIG Festival], e tem uma oportunidade a mais de mostrar [seus games].

TGE: Vocês ainda não anunciaram nenhum grande participante como patrocinador da Gamescom Latam. Podem adiantar algum nome? [Nota da redação: A entrevista foi feita alguns dias antes do anúncio do primeiro patrocinador do evento, que foi revelado nessa segunda-feira (18): a publisher francesa Ubisoft.]

Steinberg: Estamos em processo de assinatura de contratos. Não posso falar ainda, é preciso estar tudo assinado. As publishers tem que estar com o lineup [de jogos] certo. Então demora.

Infelizmente o Brasil não é a Alemanha e as empresas não fecham com antecedência. Mas temos boas confirmações já. Mas eu não posso anunciar ainda. Não posso mesmo. Em breve! (Risos.)

TGE: É provável que o Marco Legal dos Games esteja sancionado até a data da Gamescom. O debate positivo em torno do projeto de lei melhora o clima para a primeira edição da Gamescom no Brasil?

Steinberg: A Abragames e o BIG cresceram juntos, um apoiando um outro. E por isso temos essa semelhança. A gente sabe quão fundamental é o papel do governo [para o crescimento do setor]. Todos os países que entraram tardiamente nesse mercado, fora EUA, Japão e talvez França, tiveram grande apoio estatal. E ainda tem. Tem uma preocupação e um foco do governo.

Gustavo Steinberg, Gamescom Latam
Steinberg no palco do BIG Festival de 2023. Foto: Divulgação

Temos um grupo de trabalho sobre políticas públicas no BIG, e vamos continuar tendo. Trazendo tomadores de decisões de várias instâncias: federal, estaduais, municipais etc. Tentamos fortalecer vínculos com [associações] regionais dando descontos, espaços para encontros, conteúdo.

A perspectiva parece boa. E não só [para aprovação do PL] na Câmara. A outra reunião que estou agora é do Conselho Superior de Cinema, sou suplente defendendo os games. Existe uma estrutura de investimentos e regulação com leis de incentivo, fundo setorial de audiovisual, regulação de streaming, que estamos acompanhando bem de perto.

E, sim, o Marco Legal é um passo importante que queremos.

TGE: Sei que ainda é cedo, o evento é em junho, mas qual sua expectativa para a realização da primeira Gamescom na América Latina?

Steinberg: Estamos animados sempre. As perspectivas são ótimas.

Claro que é importante deixar claro para a indústria que é um momento de transição. Não vamos ficar gigantescos da noite para o dia, porque nunca fizemos isso. Fomos para um pavilhão em 2022, em 2023 dobramos [de tamanho físico], e esse ano teremos um terço a mais.

E ano que vem vamos para outro pavilhão, provavelmente. Buscar mais espaço.

Mas é um ano atrás do outro de construção.

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