Em sua primeira edição, a Gamescom Latam tentou conciliar duas características bem distintas. É, claro, um evento voltado para o público final, com milhares de visitantes espremidos nos corredores entre grandes estandes luminosos, animados para conhecer as novidades, jogar, tirar fotos, ganhar brindes e conhecer influenciadores. Por outro lado, também é um evento B2B, com representantes de publishers internacionais e brasileiras.
Nem todas, é verdade, estiveram na feira com interesse de encontrar desenvolvedores e, talvez, fechar contratos. Mas o que, afinal, querem as cerca de 70 publishers que estiveram na Gamescom Latam durante os últimos dias? Qual foi a estratégia que cada uma delas adotou para o evento?
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O The Gaming Era perguntou diretamente para algumas das maiores editoras internacionais presentes: CipSoft, Google, Jackbox Games, Level Infinite, Nintendo, Ubisoft e Warner Bros. Vejamos as respostas:
CIPSOFT
Em conversa com Pablo Miyazawa, colunista do TGE, o gerente-chefe de produto da CipSoft, Benjamin Zuckerer, disse que há várias razões para estar no Brasil para a Gamescom Latam, e elas não se restringem a promover o novo game da empresa, Persist Online. A empresa que publicou Tíbia, verdadeira febre no Brasil durante a primeira década dos anos 2000, é quase uma pop-star gamer no País.
“A Gamescom de Colônia [na Alemanha] é um evento enorme, e ficamos bem animados de saber que também haveria uma versão na América Latina”, disse Zuckerer. “A primeira é que recentemente revelamos nosso novo game, Persist Online, e seria uma boa oportunidade para anunciarmos um trailer aqui [ver abaixo]. Era uma grande chance que não queríamos perder.”
A segunda razão, continua ele, é “encontrar nossos fãs e as pessoas daqui e rever o país, porque nem sempre temos essa oportunidade, já que estamos sempre ocupados com várias coisas.”
O Google não é exatamente uma editora, mas é a dona da maior loja de games mobile do mundo em volume de dispositivos – a Google Play, do Android. Durante a Gamecom Latam, a empresa confirmou uma nova edição brasileira do Indie Games Fund, fundo de investimento destinado a acelerar desenvolvedores de games mobile da América Latina e levar os jogos para o ecossistema Android.
O TGE conversou com Daniel Trócoli, head de parcerias para games da Google Play, durante o evento. Ele não deu maiores detalhes sobre a nova edição do programa de estímulo, mas prometeu novidades para breve.
“Anunciamos uma nova rodada do Indie Games Fund, e assim que tivermos mais detalhes vocês da imprensa saberão”, disse o executivo. “A gente sabe que isso gera muita animação do ecossistema, mas só de termos conseguido orçamento [para o fundo], isso reforça nosso comprometimento de trabalhar cada vez mais com o ecossistema.”
Trócoli também fez reuniões de negócio com empresas nacionais, inclusive estúdios, com objetivo de conhecer o ecossistema local. E aponta uma maturidade cada vez maior. “Eu achei o desenvolvedor médio com perguntas mais maduras. Muitos deles já estavam, e tiro o chapéu para eles, procurando outras maneiras de se inserir no mercado antes de fazer um produto [um game].”
JACKBOX GAMES
A Jackbox Games, estúdio e publicadora com sede em Chicago, nos EUA, é conhecida principalmente pela sua série de games The Jackbox Party. Como o nome bem diz, trata-se de uma série de games para festas (party games), ou seja, para serem jogados em grupos de amigos ou familiares.
A empresa é publicadora dos próprios jogos e lançou em abril desse ano uma versão do The Jackbox Party Pack localizada em português.
O TGE conversou com Andy Kniaz, vice-presidente de desenvolvimento de negócios internacionais da Jackbox Games. Segundo ele, estar no Brasil é tanto uma forma de privilegiar os fãs locais e demonstrar compromisso com o público brasileiro como de levar para Chicago o feedback positivo dos brasileiros – a empresa montou um estande logo na entrada da Gamescom Latam para que os visitantes pudessem experimentar o game.
“Colocamos muito esforço e coração no trabalho de localização do jogo. Tem sido interessante jogar com as pessoas, ver elas reagindo, e elas tem achado [o jogo] incrível. Vou levar isso para os desenvolvedores em Chicago, eles precisam ouvir”, disse Kniaz.
Atualmente o game está em 12 plataformas, inclusive consoles, PC, dispositivos móveis e apps para TV, e o objetivo futuro da publisher é “lançar novos conteúdos em inglês e, simultaneamente, também o francês, espanhol e português, as línguas faladas na América Latina”.
Na estratégia da Jackbox Games, o Brasil é particularmente atrativo por conta da cultura de socialização. “Isso é sobre o que nossos jogos são: socializar”, disse o executivo. “Acredito que há espaço para a Jackbox Games na coleção de qualquer brasileiro.”
LEVEL INFINITE
A Level Infinite, marca de games da Tencent responsável por títulos como Honor of Kings e PUBG Mobile, entre outros, também teve forte presença na Gamescom Latam. Ao Pablo Miyazawa, o head de operações da empresa no Brasil, Fernando Mazza, disse que é “uma honra” participar da primeira Gamescom na América Latina.
“Ter um evento dessa magnitude em nosso País é incrível e mostra a força do Brasil como um dos principais mercados no mundo dos games”, ressaltou ele.
A empresa esteve em painéis para falar de PUBG MOBILE e Honor of Kings no sábado (29), no Palco Journey (o maior do evento) e com transmissão ao vivo pela internet. O objetivo, claro, foi alcançar fãs de ambos os jogos e compartilhar novidades.
NINTENDO
Miyazawa conversou com Romina Whitlock, diretora de marketing da Nintendo para a América Latina. Para ela, estar na Gamescom Latam é parte de um crescimento natural da atuação da companhia por aqui, desde que retornou oficialmente ao Brasil em 2020.
“Fomos crescendo lentamente. Primeiro, trouxemos de volta a eShop, depois os consoles, e agora, os jogos e também [estamos] fazendo a localização desses games. Obviamente, o Brasil é uma prioridade muito importante para nós nesta região”, disse Romina.
A executiva também ressaltou a oportunidade de estar mais perto dos consumidores apaixonados da marca por auqi. “Quando soubemos que a Gamescom estava chegando à América Latina e que seria em São Paulo, nós dissemos: precisamos estar lá!”, lembrou.
A empresa disse que se esforçou para trazer um jogo inédito – Luigi’s Mansion 2 HD, remaster do clássico do Nintendo 3DS, foi lançado exatamente no dia da entrevista dada por Romina, ou seja, a última quinta-feira (27). “Tentamos fazer algo especial para que, se você veio até aqui, comprou o ingresso, ficou na fila, vai encontrar algo legal que talvez nunca tenha visto antes.”
NIANTIC
A desenvolvedora e publicadora de um dos maiores games mobile de todos os tempos, Pokémon GO, também esteve na Gamescom Latam. A empresa anunciou, em um dos palcos, que promoverá uma série de eventos presenciais em várias cidades do País ao longo de 2024. E, em dezembro, um “evento em larga escala” na capital paulista para celebrar os oito anos de Pokémon GO.
“Estamos trabalhando muito próximo da Casa Civil da Cidade de São Paulo e da rede SYN Proptech de shopping centers. Não podemos revelar mais informações no momento, mas temos certeza de que será uma experiência imperdível e desde já convidamos a todos no País para celebrar com a gente!”, disse Eric Araki, gerente de marketing da Niantic no Brasil.
Ao jornalista Pablo Miyazawa, Araki disse que a Gamescom Latam é muito importante porque “ocorre em um período em que temos muitas novidades para revelar ao jogador brasileiro”.
Uma dessas novidades é a celebração chamada GO Fest Gobal, que acontece em julho no Brasil inteiro, e que no Shopping Cidade de São Paulo, na Avenida Paulista, haverá pokéstops reais e um ginásio real e interativo.
“Outra coisa legal é a parceria com diversas prefeituras, primeiro das capitais e depois de outras cidades, para adicionar milhares de novos pokéstops no país até o final do ano”, disse.
UBISOFT
Outro grande estande da Gamescom Latam foi o da Ubisoft, com imensos painéis temáticos e ativações dos maiores lançamentos da empresa para este ano: Star Wars Outlaws de um lado, Assassin’s Creed Shadows de outro e, junto com a Acer, uma área com PCs para jogar XDefiant, o novo multiplayer competitivo. Mas eram apenas dois espaços com gameplays de fato.
“Na perspectiva de ativação, só trouxemos o gameplay de XDefiant e de Invincible: Guarding The Globe. Não pudemos trazer gameplays dos outros dois games [Star Wars e Assassin’s Creed] porque eles ainda estão em fase de desenvolvimento e a janela de montagem do evento não permitiu”, disse ao TGE o gerente de comunicações e eventos para A. Latina da Ubisoft, João Acácio Guerra.
Segundo ele, ambos os jogos foram “um sucesso enorme”, com “filas todos os dias para jogar”. E que o grande objetivo da publisher francesa na Gamescom Latam – aliás, a primeira que anunciou apoio à Gamescom Latam – foi, primeiro, por conta da tradição de participar de eventos no País e, segundo, se aproximar do consumidor final e reforçar a localização dos games no Brasil como estratégia perene.
“No sentido mais semântico da palavra, não basta legendar, é localizar de verdade. Entender o que o Brasil tem de especificidades, não só botar uma legenda no trailer de [Assassin’s Creed] Shadows”, explicou Guerra, citando parcerias do passado – como a com a banda É O Tchan para promover o game Far Cry 6.
O executivo também diz que, sim, a presença da Ubisoft também tem um aspecto B2B, que é principalmente reforçar parcerias com outros players importantes do mercado e que também estão na Gamescom Latam.
“Certamente nossa estratégia também é estar onde nossos parceiros estão”, disse. “Não estamos aqui para buscar desenvolvedores, já que a Ubisoft publica somente os jogos que desenvolve, mas sim maximizar a potência da nossa comunicação.”
WARNER BROS. GAMES
A Warner Bros. também caprichou bastante na receptividade de seu estande durante a Gamescom Latam. Espalhou estações para jogar Multiversus, jogo de luta crossover feito pela Player First Games, além de Mortal Kombat 1, última entrada da sangrenta franquia de luta que é particularmente amada pelo público brasileiro.
“Um evento como esse é o momento de abraçar o fã”, disse ao TGE o diretor de estratégia para marcas e produtos de games da WB Discovery na América Latina, Ismael Crivelli. “A gente atingiu recentemente a marca de 1 milhão de seguidores no nosso canal do YouTube, no TikTok também. Por isso pensamos para esse projeto o que seria uma experiência muito legal para nosso fã, que para nós é muito precioso.”
O conceito do estande, que além de jogos promove eventos com influenciadores e partidas com pró-players de MK, é chamado de “Warner Play Experience”, referenciando o nome dos canais de comunicação da empresa. Segundo ele, mesmo após muito tempo no Brasil, inclusive com localização de jogos e esforço específico para o nosso mercado, a WB segue investindo no mercado local e “tem aproveitado bastante a oportunidade”.
Segundo Crivelli, os resultados com a participação no evento já eram positivos na sexta-feira (28), quando o TGE conversou com ele. “O feedback é muito positivo. Temos uma parte B2B também, com parceiros, criadores de conteúdo, as marcas com que temos muito contato: é o momento de estreitar relacionamento”, disse.
* colaborou Pablo Miyazawa
