Inaugurada esse mês no bairro do Boqueirão, em Santos (SP), a loja conceito da Force One é um projeto ambicioso, cujo investimento ressalta os voos mais longos que a marca brasileira de periféricos pretende dar, inclusive rumo ao mercado internacional. O objetivo imediato do espaço é, claro, estreitar relacionamento com o público consumidor, ávido por “experiências”, além de servir de laboratório para um planejado modelo de franquias.
O The Gaming Era foi convidado a conhecer a loja conceito no litoral de São Paulo, que fica mais especificamente no Boqueirão, bairro nobre da cidade. São cerca de 300 m² de área útil divididos em cinco espaços, incluindo um showroom que expõe e vende os periféricos da marca, um café, dois espaços locáveis para a gravação de podcasts e vídeos (sendo que um deles emula um “quarto gamer” e outro é um estúdio para “mesacasts”), uma sala “lan” para games multiplayer com 19 computadores, e um espaço para eventos (gaming party).
O escritório da Force One também funciona no local, incluindo a estrutura que trabalha nos designs de produtos, relacionamento com os fornecedores e clientes e distribuição. Como é praxe no setor, os periféricos da Force One são desenhados no Brasil e fabricados na China. Somados os funcionários da loja, são cerca de 35 pessoas trabalhando em Santos.
A marca quer no espaço dar “uma experiência única” aos clientes, formado nesse momento principalmente por gamers – mas a marca também mira um perfil de consumidor mais casual com linhas de produtos a serem lançadas “em breve”. Segundo o CEO da Force One, Vitor Martins, o espaço preenche uma lacuna, uma vez que as grandes lojas de departamento do passado, com espaço para experimentação de produtos, diminuíram muito.
“O grande negócio da Force One é a distribuição, isso aqui é mais um showroom. Feiras a gente tem uma ou duas no Brasil, aí fizemos essa loja”, explicou o executivo aos jornalistas convidados. Quando perguntando o motivo da inauguração em Santos, ele explica que “todos os sócios são de Santos”, se referindo ao grupo dono da Quatri, empresa de automação comercial e residencial que tem sede na cidade.
“Óbvio que adoraria uma loja dessas na Rua Oscar Freire”, diz ele, referindo-se ao endereço de marcas de luxo na capital paulista. “O grande negócio não é a loja, mas a importação e distribuição, e nesse segmento não importa muito onde a empresa está. O mais importante para mim [com a loja] é o branding.”
O que não significa, é claro, que não exista expectativa de retorno financeiro com a loja conceito.
Lacuna de mercado
Martins é um executivo experiente no mercado de periféricos. Liderou a Razer no Brasil e na América Latina por 20 anos, e deixou a companhia em novembro do ano passado para assumir a Force One.
A empresa começou como fabricante de cadeiras gamers, mas tem desde novembro do ano passado a proposta de preencher o que diz ser uma lacuna: a dos periféricos gamers com qualidade mais elevada e preços competitivos. No portfólio ampliado, lançado no fim de 2023, estão mouses e mousepads, teclados, headsets e peças de vestuário personalizadas.
Atualmente são 58 itens diferentes, ou SKUs, no jargão do varejo e da logística. Com uma nova linha prestes a ser lançada, esse número deve chegar a cerca de 70.
“É uma coisa que poucas marcas fazem. Mostrar que [os seus produtos] têm qualidade e preço justo”, explica o CEO. “Faltava preencher esse espaço entre as marcas mais baratas e as caras. “No mercado os melhores teclados custam R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil. Queremos provar que é possível oferecer um de R$ 799 tão bom quanto e com a mesma qualidade.”
O executivo sabe que o desafio não é pequeno, mas argumenta que o consumidor gamer brasileiro não necessariamente compra uma marca, mas sim especificações. “Ele sabe o que é bom, não adianta mais falar só de marca. Temos a mesma tecnologia [das grandes marcas], tudo igual, e o consumidor sabe que não precisa gastar R$ 2,5 mil em um teclado.”
Embora Martins rejeite que o objetivo da Force One seja competir diretamente com marcas internacionais consagradas no País, como a própria Razer, mas também Corsair, Logitech, HyperX e Astro, entre outras, é certo que há cerca confluência com algumas linhas de entrada e intermediárias dessas empresas.
“Não tem como não ser concorrente, a gente vai acabar concorrendo. Mas o preço é tão diferente que não temos o interesse de ‘peitar’”, responde o CEO, quando pergunto sobre a concorrência especificamente da Razer, em que o CEO trabalhou por tanto tempo. “[A Razer] é uma marca muito boa, mas que não é abrasileirada ou preparada para um mercado como um nosso. No nicho em que estamos, não temos concorrentes.”
Estratégia de vendas
Seja como for, a marca já tem apoios importantes para crescer no País. Periféricos da marca já equipam os pro-players de organizações como Fluxo, Imperial e Los Grandes – há na loja conceito, inclusive, espaços dedicados a cada um desses times. O jogador Neymar Jr. também ostenta equipamentos da marca em lives e outros eventos, além de outros influenciadores.
A estratégia de divulgação da marca também inclui participação nos maiores eventos gamers brasileiros. A empresa apresentou alguns dos seus primeiros periféricos em um imenso estande na Brasil Game Show do ano passado, mas ainda não confirma presença na BGS de 2024, ou mesmo na Gamescom Latam. “Estamos conversando”, adianta o CEO.
Em termos de canais de venda, além do site oficial (que também é um e-commerce), a marca está em marketplaces e grandes lojas como Pichau e Kabum, entre outras. A estratégia tem dado resultado, segundo Martins, que espera auferir os resultados do primeiro ano para lançar em definitivo um modelo de franquias, que deve incluir pequenas lojas da marca e quiosques em shoppings. O plano é ter de 30 a 35 lojas no Brasil.
A marca também mira alcançar outros mercados na América Latina e nos EUA. O primeiro passo para isso é um acordo prestes a ser assinado com a Ingram Micro, distribuidor multinacional que tem presença em mais de 60 países.
“A gente não estava esperando o volume de vendas que estamos tendo. Isso é bom, mas ao mesmo tempo estamos ajustando nosso estoque para atender a demanda. Estamos esperando chegar [da China] mais de 20 mil peças”, diz ele. “Queremos ser os primeiros a trazer pro Brasil o que há de melhor em tecnologia no mundo.”
* o editor do The Gaming Era viajou para Santos a convite da Force One