A ‘estranha’ paixão dos brasileiros pelos eSports

Futebol e eSports têm muito em comum, dos campeonatos ao investimento de clubes. Relação é evolução natural da paixão pela competição
Esports, Gamer, Games
Imagem: RDNE, Stock Project

No dia 19 de julho celebramos o Dia Nacional do Futebol, esporte que é inquestionavelmente uma das marcas registradas do Brasil, seja pela nossa coleção de títulos, referência como escola internacional de craques ou pela paixão quase inabalável pelo esporte. Não por menos, quando os games de futebol começaram a chegar por aqui no início da década de 1990, logo se tornaram um sucesso.

Os primeiros games do gênero nasceram, efetivamente, anos 1980 para o Comodore e Amiga, mas o primeiro grande sucesso no Brasil veio apenas em 1994, quando a Konami lançou o International Superstar Soccer, para o Super Nintendo (SNES). Até hoje o gamer brasileiro lembra do lendário Allejo, possivelmente um dos melhores jogadores da história dos games de futebol e que ocupava a posição de Bebeto na seleção do Tetra de 1994.

International Superstar Soccer, da Konami, no Super Nintendo. Foto: Reprodução

Competição dentro e fora das telas

Muito antes do conceito dos eSports, os jovens já se reuniam tardes inteiras na frente da TV na casa de colegas donos do SNES, organizando torneios complexos com fase de grupos, chaves, repescagem, mata-mata e finais emocionantes. A chegada de consoles mais potentes, especialmente na era do PlayStation, com Winning Eleven (Pro Evolution Soccer), intensificou ainda mais a popularidade dos jogos de futebol, mas a maior motivação por trás do sucesso desses jogos estava na disputa.

Esse fator competitivo despertava um fascínio e engajamento tão grande que em poucos anos as próprias desenvolvedoras começaram a implementar modos de campeonato nos games, e não apenas nos de futebol. Games como The King of Fighters 94 e Street Fighter movimentavam filas imensas nos fliperamas.

Em paralelo, nos PCs a internet já começava a se popularizar, dando margem para o surgimento de games competitivos online, como Starcraft, e Counterstrike. Sempre com a disputa em vista, e com a facilidade de poder jogar com pessoas do mundo todo, a antiga “brincadeira” de organizar torneios tomou proporções ainda maiores com a cultura das lan-houses.

Era extremamente comum ver lan-houses de bairros criando eventos fechados de finais de semana inteiros com times disputando prêmios que variavam desde créditos para jogar mais, a prêmios em dinheiro. Naturalmente, esse não foi um movimento exclusivo do Brasil, e já era bastante popular em países com a internet mais difundida.

Investir nos eSports foi movimento natural

No entanto, a expertise e competitividade nata do brasileiro no futebol e esportes em geral acabou transportada para os games competitivos, os eSports. Tanto que a equipe MIBR (Made In Brazil), originalmente de Counter Strike, foi uma das fundadoras da organização internacional G7 Teams, ao lado de gigantes, como a Ninja In Pyjamas (NIP).

Quando LoL chegou, o cenário dos games competitivos já tinha passado por quase 20 anos de evolução, e já movimentava muito dinheiro no cenário global. A ESL (Liga de Esportes Eletrônicos) já organizava competições desde os anos 2000 e já tinha até formado a parceria com a Intel para criar o IEM (Intel Extreme Masters).

Contudo, é preciso lembrar que os clubes de futebol, e não apenas os brasileiros, são, na verdade, empresas que patrocinam diversas modalidades esportivas. O Flamengo, por exemplo, tem um dos maiores centros de treinamento de ginástica artística do país.

Sendo assim, não apenas não surpreende ver clubes como o River Plate, Barcelona, Corinthians e o próprio Flamengo criando equipes de eSports, como é quase um movimento natural.

Isso porque, pensando nas características sociais dos esportes convencionais, as modalidades eletrônicas ajudam a desenvolver as mesmas habilidades de senso de pertencimento, espírito de grupo, competitividade, colaboração e tantos outros.

Paixão pela competição

Pensando no fator entretenimento, o velho argumento de que jogar games tem seu apelo, mas assistir partidas “não tem graça”, cai por terra sem muito esforço. Basta analisarmos que a maioria dos brasileiros é fanática por futebol e muita gente vibra e torce, independente de praticar ou não o esporte.

Quase ninguém consegue realizar as jogadas de craques como Messi, Vini Jr., mas nem por isso elas são menos impressionantes. Da mesma forma, é praticamente impossível reproduzir os movimentos da luta icônica entre Diagon e Justin Wong com Ken e Chun-Li na EVO 2004, mas é igualmente impossível acompanhar a surra de “parries” e não vibrar com a torcida.

Não é preciso ser especialista em nenhum esporte para assistir e se divertir, porque a maior graça está, justamente, em acompanhar as partidas. O amor pela competição e sentimento de identificação com a torcida é muito maior do que saber a regras, é uma questão de sentir, e se isso ainda servir de motivação para se arriscar a experimentar como hobby, o esporte já cumpriu seu papel transformador.

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