Poucos dias após o término da segunda Gamecon no Acre no último sábado (2), os resultados ainda estão sendo contabilizados pelos organizadores. O número de participantes, mais imediato deles, é considerado positivo: aproximadamente 5 mil pessoas passaram pela biblioteca do Centro Universitário Uninorte, em Rio Branco, capital do estado.
Estiveram por lá curiosos, desenvolvedores, estudantes de ensino fundamental, médio e superior, autoridades, influenciadores, criadores de conteúdo e todo tipo de interessado no crescimento do mercado acreano (e amazônico). Para Ana Paula Rocha, CEO da Plataforma Gamecon, o grande resultado é, primeiro, mostrar que existe uma “cena” de games e esportes eletrônicos no Acre e, segundo, que o evento fomenta um legado de desenvolvimento setorial e local.
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“As pessoas [do Acre] perceberam que, se se organizarem, alguma coisa vai acontecer aqui. Elas estão se organizando para suportar o mercado, e acho que esse é um dos objetivos alcançados”, disse ela, em entrevista dada ao The Gaming Era concedida a poucas horas do fim do evento.
O TGE passou os três dias da Gamecon Acre 2024 em Rio Branco como parceiro da Agência Collab, que emula uma agência de notícias dedicada ao evento. Foram selecionados seis criadores brasileiros, entre jornalistas e influenciadores, para gerar uma cobertura que pode ser lida na home do site da Gamecon Acre.
O evento já confirmou uma nova edição em Rio Branco em 2025, e pretende realizar eventos do tipo em outras duas capitais brasileiras – Brasília (DF) e Vitória (ES). A meta é alcançar 10 capitais nacionais até 2030. O objetivo, explica Ana Paula, é fomentar tanto o mercado consumidor como a comunidade local de desenvolvimento.
Ela explica melhor esses planos na entrevista abaixo. Confira:
Estamos no último dia da Gamecon Acre de 2024. Você disse que enxerga a realização desse evento como parte de uma trajetória maior. Mas pensando só nessa edição: você está satisfeita com o resultado?
Ana Paula Rocha: Nessa parte do caminho conseguimos colocar algumas pessoas importantes para “dentro do jogo”, literalmente. As pessoas que a gente queria que chegassem perto para ajudar nas próximas etapas. E que nos reconhecem como parceiros do desenho de um ecossistema. Então acho que foi muito assertivo.
Eu saio muito satisfeita com a game jam. Para mim foi realmente muito surpreendente ter oito protótipos de jogos do Acre, coisa que realmente não pensávamos que íamos conseguir. Todo mundo entregou seu produto, ninguém ficou no meio do caminho. Então acho que isso é um resultado muito positivo.
E por mais que façamos uma Gamecon com o papel de descentralizar [a indústria], existe uma necessidade de público, de maior mercado consumidor. Somos um dos maiores do mundo, temos mais de 100 milhões de pessoas que se consideram gamers, mas nós não temos ainda gestores [públicos] que compreendam isso verdadeiramente.
Tanto pela ausência de dados como pela distância de faixa etária dos nossos gestores, falta compreensão do alcance e da potência desse mercado. Então essa sensibilização da iniciativa pública é devagar, lenta. Mas vejo que aqui [no Acre] conseguimos despertar uma curiosidade.
O legado que a Gamecon já deixou foi de que existe uma cena aqui no Acre. Por exemplo, depois da primeira Gamecon (Talks, em 2023) a garotada daqui criou uma federação de esportes eletrônicos.
Algumas pessoas perceberam que se se organizarem, alguma coisa vai acontecer aqui. Elas estão se organizando para suportar o mercado, e acho que esse é um dos objetivos alcançados.
No palco mais cedo, você confirmou que teremos uma edição da Gamecon em 2025. E disse que um dia talvez seja possível “sair” e deixar que a comunidade e as organizações que se formam aos poucos no Acre um dia realizem a Gamecon. É isso mesmo?
Ana: Olhando lá para o futuro, como a Gamecon quer se posicionar? Hoje estamos construindo esse processo. A Gamecon quer ser uma inteligência estratégica com visão global e métodos de aplicação regional. Queremos fazer em conjunto para entender como fazer, e então sermos esse apoio técnico e organizacional para que o mercado local aconteça.
A ideia é que sempre estejamos presentes como marca, mas que o mercado aqui nos abrace e seja quem de fato entrega o evento com qualidade.
Nós temos na Gamecon uma aceleradora que é a Acelera Lab, que por sua vez tem uma metodologia baseada em três pilares: propósito, integralidade e autogestão. Então o que queremos é que as pessoas se identifiquem com o propósito, e se sintam parte do nosso processo, e que possam se autogerir.
A ideia é que a gente se torne cada vez mais mentores do processo. Somos um coletivo que desenha uma marca colaborativa, uma forma de cocriação. E isso só vai funcionar e aquecer os mercados em diversas regiões do Brasil se cocriarmos.
Como nem tudo são flores, o que pode melhorar na Gamecon Acre de 2025? Quais foram os aprendizados da edição desse ano?
Ana: Eu acho que é acertar a forma de chegar nas pessoas. Acertar em ter um público não só para entretenimento, mas interessado mesmo. Eu acredito verdadeiramente que esse público existe no Acre.
É um estado carente de qualificação profissional, carente de novas profissões. Temos mais de 60% da população empregada no setor público. E altos índice de criminalidade. Podemos atuar contribuindo com o jovem de hoje, mas também com as crianças que serão jovens nos próximos anos.
Podemos contribuir com uma nova forma de desenvolvimento econômico. Eu acho que temos uma condição muito verdadeira de contribuir com a sustentabilidade ambiental, porque estamos na Amazônia e existe uma necessidade enorme de se buscar profissões que não sejam baseadas em explorar a floresta ou os bens naturais.
A tecnologia permite isso, mas essas pessoas precisam se profissionalizar. Estamos falando de mundo globalizado. Eu venho aqui, falo quem sou e posso trabalhar com essas pessoas o ano inteiro pela internet. Podemos oferecer qualificações das mais diversas.
Então acho que podemos melhorar e identificar onde essas pessoas estão porque, de uma forma muito honrosa e alegre, as conquistamos através dos nossos valores e conceitos pessoas. Elas acreditam na gente. E temos recursos para estar aqui garantidos para os próximos dois anos.
O meu foco hoje é usar de forma eficiente esse recurso. De forma mais assertiva. Não quero que a nossa marca seja percebida como atividade de puro entretenimento. Trabalhamos para isso, para sermos percebidos como marca que agrega valor à região e aos indivíduos daqui.
A diversidade cultural daqui é incrível, a identidade é incrível, e a necessidade das pessoas são verdadeiras.
A plataforma Gamecon tem a expectativa de fazer três eventos no ano que vem, certo? O evento aqui no Acre impulsiona esses novos passos de que forma?
Ana: Traz uma parte do processo metodológico. O que a marca quer até 2030 é estar em 10 estados, mas não engessados na forma de fazer. O processo de cocriação é uma forma de fazer muito dinâmica.
Então eu não vou chegar e me instalar em um estado, mas chegar e cocriar com essas pessoas. Com esse modelo de mentoria muito bem estabelecido. Então estamos desenhando as múltiplas formas e plataformas.
Eu tenho uma perspectiva muito legal de amadurecimento do nosso grupo Gamecon. Essa realização aqui trouxe pessoas muito importantes, que eu espero que continuem com a gente. Acho que agregar um time muito forte para que seja multiplicador é fundamental para que a gente exista.
A minha percepção é a de que estamos em um caminho muito certo.