“Eu era famoso sem saber que era famoso. Comecei com vídeos duas vezes por semana, foi tomando tração, crescendo e, quando vi, eu estava dentro do canal da Ubisoft fazendo conteúdo”, conta Douglas Mesquita Silva. O youtuber e empresário de 35 anos é mais conhecido pelo personagem que encarna: o Rato Borrachudo.
Mais de dez anos após sua estreia no YouTube, o influencer – hoje parceiro da Ubisoft no Brasil -, possui uma empresa de games e um site de publicidade, e busca futuro no mercado de robótica. Ele faz a própria trajetória parecer simples, mas ela é marcada por muito estudo, acertos e, claro, erros.
O canal no YouTube do Rato Borrachudo tem mais de 3,5 milhões de inscritos – e o canal Eu sou o Douglas mais de 1 milhão.
Tudo começa com os games
Aos quatro anos jogava em seu Mega Drive e, com a influência do pai, a tecnologia passou a fazer parte de sua vida. “Meu pai montou comigo o meu primeiro computador com peças que ele achou no lixo”, conta Mesquita, que desde pequeno passou a querer trabalhar com tecnologia.
Começou a faculdade de ciência da computação para desenvolver games. “Fui com muita expectativa. Finalizei minha faculdade em quatro anos, mas descobri que odiava programar. Como você vai ser um programador de games se você odeia programar?”.
Gravou seu primeiro vídeo em 2008, narrando o jogo Fear. Enquanto cursava a faculdade, também fazia conteúdo para o YouTube. Se tornou especialista em banco de dados e trabalhou para uma instituição federal. Mantinha o anonimato por causa do trabalho.
“Eu trabalhava com inteligência de negócios, entregava relatórios… O que iam achar de uma pessoa que fica gritando e jogando videogame no YouTube? Antigamente era bem mais marginalizado, coisa de vagabundo”, lembra.
A máscara surgiu justamente por causa do rato em seu primeiro vídeo. O futuro Rato Borrachudo foi chamado para um evento e pensou em algo para esconder o rosto. “Fui numa loja de fantasias chamada Turuna, no Rio, e comprei essa máscara. Quando botei falei ‘horrível’. Depois coloquei de novo e coloquei os óculos. E aí nasceu o personagem”, conta.
Em 2013, começou a fazer conteúdo dentro do canal da Ubisoft. Em 2014, durante a Brasil Game Show, no stand da publisher viu caricaturas dos influenciadores, entre elas a do Rato Borrachudo. Foi quando percebeu o quão grande era seu trabalho como YouTuber – e resolveu deixar o trabalho no instituto federal.
Em 2017 mudou-se do Rio para São Paulo e entendeu como era ser produtor de conteúdo e empresário.
Coxinhas com o Nelson Piquet?
Em 2016, Douglas Mesquita foi convidado pela equipe do ex-piloto Nelson Piquet para conhecer um boxe. Na conversa, o YouTuber apresentou a ideia de uma fábrica de coxinha – ele já havia escrito o projeto todo.
Nos três primeiros meses houve bom retorno, mas a concorrência não havia sido estudada. Hambúrguer e pizza em serviços de entrega se destacavam, e as coxinhas vendidas a cento [100 unidades] tinham preço baixo. Em oito meses encerraram o empreendimento.
“Foi um aprendizado. Trabalhar com alimentos é uma coisa que eu acho que nunca mais vou fazer na minha vida”, diz.
Ampliando os negócios
Em 2020, o canal do Rato Borrachudo tomou alguns strikes [punições] e quase foi derrubado. “Eu usei cinco segundos de entrada de um drone que tinha direitos autorais para a abertura de uma série da reforma do apartamento. Então eu levei 20 strikes e no YouTube você só pode tomar três”, lembra.
Mais de dez anos de conteúdo que gerava receita e um canal secundário estavam em risco. Graças a um acordo, Mesquita continuou com a conta. “Deu um estalo. Eu tava com todos os ovos na mesma cesta”. E foi assim que ele mirou em outros empreendimentos.
O primeiro foi o Escorrega o Preço, site de publicidade que concorre com o Buscapé, Zoom e Méliuz. “É algo novo para eu gerenciar, é de graça para o público e eu ajudo as lojas a vender o produto deles. É o tipo de empreendimento que todo mundo ganha, não tem ninguém perdendo, entendeu?”, explica.
A plataforma tem mais de 250 mil consumidores cadastrados, de acordo com o youtuber.
Uzmi Games
Mesquita decidiu trabalhar profissionalmente na área de games e, em 2020, abriu o estúdio Uzmi Games. O MMORPG Tales of Shadowland é o atual projeto em desenvolvimento. A produção contava com um time grande e o crowdfunding ia bem. Mas surgiram obstáculos.
“A gente tinha 23 pessoas na área, mais ou menos, vários freelas trabalharam e a gente conseguiu um investidor na Europa. O crowdfunding foi positivo e o projeto, bem encaminhado”, conta. No entanto, um acidente tirou a vida do investidor.
“A gente já tinha bancado o que dava pra bancar e sem o investidor não ia dar. O crowdfunding não ia pagar o desenvolvimento, porque os dois anos estavam pleiteados em US$ 1 milhão [cerca de R$ 5,7 milhões], e a gente perdeu isso “, explica.
Sem o investidor, o dinheiro do financiamento coletivo foi devolvido, houve demissão em massa e, com equipe reduzida, o projeto foi desacelerado. De acordo com Mesquita, ao todo foram investidos cerca de R$ 5 milhões no MMORPG.
“A gente acelerou muito no começo, então teve que investir na equipe. Tinha profissionais que não estavam no Brasil, eram do Canadá, da Europa, por que não conseguimos essa mão de obra aqui no Brasil, então o pagamento foi em dólar. O grosso desse dinheiro foi ali no começo e a gente conseguiu já um produto, na época, que era jogável”, conta.
O jogo está na wishlist de cerca de 30 mil pessoas na Steam, além de 70 mil cadastros de e-mail. Mesquita diz que, no momento, está buscando investidores para o lançamento do jogo.
Batalha de robôs
Quando começou a mexer com impressora 3D, Mesquita resolveu fazer um robô de combate. ”Foi uma categoria chamada fada, 150g, comprei as pecinhas, segui guia no YouTube e fiz o meu primeiro robozinho. Tem até o vídeo do teste”.
A resposta da comunidade robótica não foi positiva, porém Mesquita gostou de como se deu a crítica. “Aquela comunidade soube como falar comigo e soube como me ensinar e eu sempre gostei de aprender. Aí comecei a aprender muito com as comunidades de robótica, sobre batalha de robô, segurança”.
Segundo o influenciador, as batalhas de robô existem há mais de 20 anos no Brasil. “Quando vi os campeonatos acontecendo, ninguém falando nada, ninguém apoiando, eu falei ‘vou dar visibilidade para isso”, lembra.
Mesquita criou a própria equipe de robótica e foi disputar o mundial do ano passado. Hoje tem uma arena para batalha de robôs, em São Paulo. Além disso, vê a possibilidade de expansão da tecnologia para outras áreas, como agronegócio, aviação e tecnologia portuária.
Vida pessoal
Que Douglas Mesquita gosta de videogame, não há dúvidas. Mas ele também é um colecionador: tem cerca de mil jogos e 80 videogames na caixa. “Eu adoro jogar meus jogos antigos. Esse final de semana montei uma banda no Rock Band ali com minha noiva e a gente ficou o final de semana inteiro jogando”, comenta. [Nota do editor: Na data da publicação deste texto, a noiva Bruna e Douglas já estão casados.]
Sua outra paixão são os carros, que ganharam destaque em seu outro canal do YouTube, Eu sou o Douglas, de teor mais pessoal. Mesquita não gosta somente de comprar, mas também de procurar peças e mexer neles.
Sobre os planos para o futuro, Mesquita diz que quer “ver esses projetos realizados, tanto na robótica, a gente ter um cenário muito legal aqui no Brasil, transportando tecnologia, quanto na parte de desenvolvimento. Eu acho que se for um jogo que bota o Brasil no mapa como algo muito bom, vai chover de oportunidade aqui”, conclui.