Vader em Fortnite inaugura IA generativa em grandes jogos e faz Epic ser questionada

Nova era para a indústria chega sob dilemas éticos, trabalhistas e de segurança, mas reaviva velho sonho de jogadores
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Imagem: Divulgação

Um passo que pode redefinir os rumos da indústria dos jogos eletrônicos: assim pode ser definido o lançamento mais recente da Epic Games em seu arrasa-quarteirão Fortnite. Pela primeira vez, a desenvolvedora integrou IA generativa a um NPC (personagem não jogável) em um game online massivo, permitindo que milhões de jogadores interajam diretamente com Darth Vader durante a atual temporada – chamada Galactic Battle.

O personagem foi adicionado ao battle royale na última sexta-feira (16), e é resultado da combinação de dois sistemas: o Gemini 2.0 Flash, do Google, que cria as respostas em tempo real; e um modelo da ElevenLabs que sintetiza a voz de James Earl Jones, falecido ator responsável pela voz de Vader em Star Wars.

Apesar de empresas como Ubisoft, EA e Nvidia já estarem explorando a IA generativa, a Epic é a primeira a implementá-la em escala global dentro de um jogo. Não se trata de um teste em um protótipo ou uma demo técnica, mas sim uma funcionalidade ativa em um dos games como serviço mais populares do mundo, com potencial para redefinir como os jogadores interagem com personagens digitais.

É uma virada com o peso de uma revolução, uma vez que até agora falávamos de IA generativa em jogos como uma promessa restrita aos bastidores, na criação de ativos visuais, geração procedural de terrenos, dublagens automatizadas ou no suporte a narrativas dinâmicas. O que a Epic faz agora é diferente: é uma implementação pública, massiva, com um personagem de apelo intergeracional.

É colocar a IA generativa no palco, não mais nos bastidores.

É a materialização de uma ideia antiga sobre o futuro dos jogos: mundos interativos onde os personagens não apenas seguem scripts, mas conversam com o jogador, improvisam, ouvem e reagem. Como se fossem entidades vivas. Uma iniciativa dessa magnitude levanta questões que extrapolam os limites técnicos e criativos da indústria dos videogames. Com menos de três dias no ar, a novidade já trouxe algumas dificuldades para a Epic.

Como destacou o jornalista estadunidense Stephen Totilo em sua newsletter Game File, alguns jogadores começaram a testar os limites da tecnologia, buscando falas inusitadas, ofensivas ou provocativas. E conseguiram. Em poucos minutos, Vader respondeu com palavrões e até um comentário homofóbico, tudo isso com a voz digitalizada de James Earl Jones. A Epic correu para lançar hotfixes e reforçar os filtros de segurança.

Darth IA generativa

Totilo chama atenção para o fato de que o primeiro personagem usando IA generativa em um jogo tão grande quanto Fortnite seja justamente Darth Vader, um ícone da cultura pop – ainda por cima usando a voz de um homem que não está mais vivo.

Para o jornalista, isso aponta para uma era em que o legado de artistas pode ser prolongado artificialmente. Essa é, aliás, a razão pela qual atores de videogames dos EUA seguem em greve desde o ano passado.

(Vale mencionar que essa não é a primeira vez que a voz de Earl Jones é recriada com IA. Em 2022, ele trabalhou com a empresa ucraniana Respeecher para desenvolver uma versão mais jovem de sua voz para a série Obi-Wan Kenobi.)

Segurança e custos

Outra questão delicada é a segurança. Embora a Epic tenha implementado filtros para barrar conteúdos relacionados a temas sensíveis, como violência sexual, exploração infantil e discurso de ódio, usuários rapidamente encontraram formas de burlar o sistema.

E há ainda a questão dos custos. As falas são geradas por um modelo de IA rodando em um servidor remoto, com alto preço em processamento – e ambiental, já que algoritmos de IA são grandes consumidores de energia, muitas vezes suja – a cada nova interação. Como apontou Totilo, desenvolvedores já alertaram que esse tipo de recurso pode se tornar economicamente insustentável em jogos com milhões de usuários ativos.

Por ora, a Epic não limita interações nem cobra por elas. Mas até quando?

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