Um documento assinado por pouco mais de 250 desenvolvedores independentes brasileiros (e alguns estrangeiros) e divulgado nessa segunda-feira (26) pede mudanças aos organizadores da Gamescom Latam e do BIG Festival. A carta aberta é uma reação organizada desses profissionais a uma série de denúncias e reclamações relacionadas à última edição do evento – que ocorreu entre 30 de abril e 4 de maio de 2025.
O objetivo, segundo o documento – enviado em primeira mão ao The Gaming Era pelos envolvidos – é “transformar a Gamescom Latam em referência no tratamento e incentivo a desenvolvedores independentes nacionais”. O documento enumera 12 propostas que os autores acreditam que melhorariam as condições de participação de gamedevs brasileiros no evento (ver abaixo), que se queixam de muitas vezes estarem “pagando para trabalhar”.
No preâmbulo do documento, os autores dizem que Gamescom Latam e BIG Festival trazem “muitos benefícios para o cenário de jogos”, e que eventos do tipo “fomentam e incentivam os desenvolvedores independentes”, profissionais que “muitas vezes” estão expondo o “primeiro jogo”. E que dar a eles um lugar para divulgação é “o primeiro passo para termos uma indústria saudável desde a base”.
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No entanto, ressalta que a forma como desenvolvedores independentes têm sido tratados causa “preocupação”. “Isso se agrava por se tratar de um evento com financiamento público, advindo da Lei Rouanet e demais incentivos”, diz a carta.
De fato, conforme já relatado por esse site em inúmeras ocasiões, a Gamescom Latam é um evento que recebe investimentos privados dos sócios – a Associação Alemã da Indústria de Jogos (Game), a Koelnmesse, a Omelete Company e o BIG Festival – e recursos públicos, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do estado e da Prefeitura de São Paulo, além de recursos federais por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
O orçamento total estimado pelo CEO Gustavo Steinberg poucas semanas antes do evento era de cerca de R$ 32 milhões. Segundo os próprios organizadores, a Gamescom Latam de 2025 terminou com mais de 130 mil visitantes, 71 empresas expositoras e 1.100 companhias participantes na área de negócios (B2B), inclusive 204 publishers. Mais de 17 mil reuniões de negócio foram contabilizadas, e 223 horas de conteúdo nos palcos.
A Gamescom Latam e os problemas
O documento enumera entre os problemas a necessidade de alugar televisores e até extensões de energia por “preços elevados” nos espaços dedicados aos indies. Também a falta de pessoal de apoio aos expositores, a ausência de espaços de descanso e até a falta de cadeiras, o que resultava em longas jornadas em pé.
O documento também alega que não havia auxílio para alimentação ou transporte para desenvolvedores e palestrantes, o que teria inclusive motivado alguns deles a negarem convites para a participação no evento. O preço da alimentação disponível no evento também foi alvo de críticas – inclusive do público.
O texto lista ainda eventos nacionais e internacionais que oferecem auxílios semelhantes aos indies, argumentando que não se trataria de um benefício inédito no mercado de eventos.
Os problemas foram narrados primeiro pelo jornalista Mateus Mognon, do Voxel, em matéria publicada alguns dias depois do evento, após uma série de reclamações detectadas nas redes sociais por parte de desenvolvedores influentes. Foram ouvidos tanto gamedevs como funcionários do evento, e apontadas falhas que variam da falta de organização à de segurança (inclusive com um gamedev tendo sido furtado).
Condições que, segundo os signatários da carta, são “inadequadas para o padrão atual de eventos nacionais e internacionais que se colocam como fomentadores da indústria local”. Eles alegam ainda que essas condições “não trazem benefícios financeiros significativos para o evento, apenas servem para posicioná-lo de forma antagônica aos desenvolvedores”.
O documento contrapõe essas condições ao “tratamento que o evento dá a alguns desenvolvedores e influencers internacionais, que muitas vezes têm sua viagem e estadia custeados, além de outros incentivos”.
12 recomendações
As sugestões dadas pelos desenvolvedores independentes são, na ordem, as seguintes:
- Auxílio transporte para desenvolvedores expondo no Panorama Brasil, incluindo os de São Paulo;
- Auxílio transporte para os finalistas do BIG Festival, incluindo os de SP;
- Auxílio transporte e cachê para palestrantes;
- Voucher de alimentação para os desenvolvedores do Panorama Brasil;
- Voucher de alimentação para desenvolvedores do BIG Festival;
- Voucher de alimentação para palestrantes;
- Sala de descanso para desenvolvedores;
- Televisores para exposição dos jogos sem custo extra para os desenvolvedores do Panorama Brasil;
- Extensões de tomada disponíveis sem custo extra para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
- Staff para ajudar os desenvolvedores do Panorama Brasil com o público, inclusive para permanecer no estande nos momentos de saída para ir ao banheiro ou se alimentar.
- Guarda-volumes sem custos para expositores;
- Mais segurança no evento, a fim de evitar furtos.
O documento termina com um convite dos desenvolvedores para que a Gamescom Latam entre “nessa conversa de forma muito positiva, beneficiando expositores e público”. E diz aguardar uma posição da feira sobre as propostas.