No mundo, os resultados do último trimestre fiscal de 2023 não foram dos mais animadores para a fabricante taiwanesa Asus. A receita líquida da companhia no período caiu 11% frente ao trimestre anterior, e 5% frente ao último trimestre de 2022, saindo de US$ 17,8 bilhões total em 2022 para US$ 15,5 bilhão em 2023.
Apesar disso, o segmento de PCs gamers da marca segue crescendo mais de 20% ao ano na média (CAGR). O segmento gamer, sozinho, responde por 50% de todo o faturamento da ASUSTEK [nome oficial da companhia] no mundo, principalmente no mercado asiático, de onde vieram 45% do montante feito com vendas pela empresa em 2023.
Por isso não surpreende que a conversa do The Gaming Era com Daniel Kawano, gerente de produto da Asus no Brasil, gire tão fortemente em torno do segmento gamer. Por aqui a marca era mais conhecida (e reconhecida) pela venda de componentes para PCs – placas-mãe, GPUs, fontes, gabinetes etc – divididos entre as marcas TUF (intermediária) e ROG (topo de linha).
Mas, nos últimos anos, a Asus investiu fortemente também na venda de dispositivos prontos no mercado brasileiro, incluindo notebooks, parte deles já fabricados nacionalmente. Além disso, continua obtendo bons resultados com a linha de “smartphones gamers” – os ROG Phones – e superou as metas de venda do portátil ROG Ally.
“Vou te dizer que o gaming de modo geral é hoje a ponta de lança [da Asus no Brasil]”, responde Kawano, quando pergunto sobre a ênfase dada pela empresa ao segmento gamer em suas ações de marketing por essas bandas. “O gamer traz algumas tendências que se vê nas redes sociais. Eles criam tendências.”
Kawano – que faz também o papel de YouTuber oficial da marca [veja abaixo] – tem um longo histórico no mercado gamer. Foi gerente de produtos da Acer e de comunicação da Blizzard Entertainment, entre outras grandes empresas. Está na Asus desde novembro de 2021.
“O mercado de games [no Brasil] é bastante promissor. E para nós não é diferente”, resume o executivo, lembrando o histórico de atuação da Asus no Brasil com os componentes, o lançamento local do ROG Phone desde a primeira geração (a oitava deve chegar ao País em breve) e o início da fabricação local de notebooks.
“Nos notebooks gamers, apesar de termos esse negócio há bastante tempo, tanto [na linha] ROG como TUF, aqui é mais recente. Começamos com poucas peças em 2022, um trabalho embrionário para entender as dinâmicas do mercado. E ano passado começamos a produção local e esse ano vamos ampliar”, assegura Kawano.
Desafio da marca e produção nacional
A linha de produção da Asus no Brasil foi inaugurada em 2023 e fica em Jundiaí, interior de São Paulo. São fabricados por lá notebooks da linha TUF e ROG, além de outros equipamentos mais convencionais e voltados para uso comum. Segundo o executivo da fabricante, em 2024 serão fabricados pelo menos mais dois modelos de notebooks gamers.
“Ficamos muito mais competitivos produzindo localmente”, explica Kawano, mencionando que isso reduz tanto os custos logísticos como simplifica a parte tributária. Mas não são as únicas vantagens.
“Atendemos melhor o público brasileiro”, pondera. “Apesar de ser possível configurar [um notebook] da forma que se quiser fora do Brasil, perdemos competitividade por conta dos impostos de importação. E produzir localmente agiliza o acesso ao produto.”
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Segundo ele, o tempo que se leva entre um lançamento de um produto e a disponibilidade no mercado é cada vez menor no Brasil, “próxima da realidade de países mais desenvolvidos”, graças à fabricação local. E que o desafio agora é vender mais em regiões menos centrais do País. “A região norte é complicada por conta da infraestrutura”, pondera.
O executivo também diz que produtos mais sofisticados, como os das linhas gamers, trazem desafio adicional de produção. Mas que, agora, a fábrica em Jundiaí já está madura o suficiente para receber novos produtos. “A ideia é continuar avançando”, salienta.
Outro desafio é obter reconhecimento de marca, considerando que a Asus chegou ao mercado gamer brasileiro depois de outras já estabelecidas. O objetivo de Kawano é transferir a reputação obtida pela Asus no mercado de componentes para os notebooks e outros dispositivos, como o ROG Ally e o ROG Phone.
Um último grande desafio para crescer no mercado nacional é o preço dos equipamentos. O notebook mais barato da linha ROG (o Strix G16) no site oficial da Asus custava cerca de R$ 13 mil na data de publicação dessa reportagem, enquanto o da linha TUF (Gaming F15) saia por R$ 5.100. Mas há equipamentos como o recém-lançado Zephyrus G16, equipado com uma RTX 4080, recursos de IA e uma tela OLED de 2,5K – e que custa módicos R$ 29 mil.
Para Kawano, essa variedade no portfólio é positivo e permite atender tanto o entusiasta sem limite de orçamento quanto uma faixa “um pouco mais próxima da realidade do brasileiro comum”. E que hoje os notebooks já são uma opção para os gamers que não querem montar um desktop.
“Infelizmente os produtos não são mais baratos por conta da questão tributária do País. Temos uma carga tributária alta, o que acaba penalizando o consumidor”, salienta o executivo. “Mas cada vez que baixamos cem ou duzentos reais no preço de um produto conseguimos colocar mais pessoas no mercado. Por isso o mercado de notebook gamer cresce dois dígitos, segundo dados da GfK.”
Asus ROG Ally e ROG Phone
Apesar de produzir desktops gamers fora do Brasil, a Asus nega ter planos de trazer esse tipo de equipamento para o País, diferindo de concorrentes como a Dell, dona da marca Alienware, por exemplo. “As pessoas aqui no Brasil que trabalham com desktops se acostumaram a montar máquinas. É um mercado bastante difícil”, explica Kawano.
Mas quando se trata de mobilidade o mantra é outro. O ROG Ally, console portátil com APU da AMD trazido oficialmente pela Asus ao Brasil em 2023, “foi bem aceito [no Brasil], assim como globalmente”, conta o executivo. Apesar de não revelar o número de unidades vendidas por aqui, ele diz que o produto inaugurou um mercado que, embora nichado, represava demanda.
“O mercado brasileiro para esse tipo de produto era inexistente. Até o anúncio do Ally no Brasil a gente só tinha [produtos de] empresas que faziam crowdfunding, como a Ayaneo. O Steam Deck até hoje não é vendido oficialmente no Brasil. Com a o anúncio do Ally esse mercado se abriu”, lembra Kawano. “Agora a Lenovo veio, embora não tenha lançado o Legion GO no Brasil ainda. A MSI também. As marcas mais tradicionais no PC começam a vir.”
Segundo ele, o ROG Ally tornou a categoria dos portáteis rodando jogos de PC mais visível, e atingiu a meta de vendas no Brasil em 2023. “Temos um procura razoável do produto, continuamos vendendo sem maiores dificuldades”, assegura.
As metas para o ROG Phone, linha de smartphones da Asus voltado para o público gamer e lançada em 2018, também encontra terreno fértil no Brasil, assegura Kawano. Mas será que existe mesmo demanda para um celular gamer? Afinal, os jogos móveis rodam bem em qualquer celular de entrada.
“Qual a necessidade de ter um smarpthone gamer para jogar? Esse é o ponto em que começamos a trabalhar nos últimos três anos”, lembra o executivo, que responde: o ROG Phone tem cada vez mais se vendido como um celular que também é bom para uso cotidiano.
“Buscamos ter uma bateria maior, conjunto de câmeras bom para o dia a dia, a taxa de resposta da tela, os Air Triggers [botões ultrassônicos na lateral direita do smartphone] transformam o celular em joystick… Esse trabalho ajudou a tornar o ROG Phone mais vendável para atingir objetivos de venda no Brasil”, explica.
Segundo ele, no mundo todo os países que mais compram ROG Phones são aqueles em que jogos mobile são muito fortes – caso, é claro, do Brasil, mas também da China e da Índia, por exemplo.