Quando deixa de ser diversão: mandando a real sobre bets e games no Brasil

Não dá para fingir que está tudo bem enquanto uma geração confunde vício com entretenimento, escreve Ana Xisdê
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Imagem: Canva (gerada com IA)

Sendo bem direta com vocês: eu amo jogos. Eles fazem parte de quem eu sou. Me ensinaram sobre estratégia, foco, trabalho em equipe, resiliência. Mas ultimamente tenho sentido um aperto no peito vendo como o Brasil está caindo numa armadilha disfarçada de entretenimento: o universo das apostas online – as famosas “bets”.

Não estou falando aqui de competição, de eSports, de treino suado para ganhar um campeonato. Estou falando de joguinhos de azar, onde você coloca dinheiro esperando multiplicar em segundos – e muitas vezes perde tudo.

É uma diferença brutal. E está passando da hora de a gente conversar sobre isso.

Promessa fácil que vira pesadelo

Tem gente apostando o que não tem, literalmente. Dados da Confederação Nacional do Comércio mostram que mais de R$ 68 bilhões foram gastos em apostas online no último ano — isso representa 0,62% do PIB do Brasil. Sabe quanto disso foi parar em plataformas de cassino virtual, tipo aquele famigerado jogo do tigrinho? Quase 80%.

E agora segura essa: 1,3 milhão de brasileiros já estão endividados por causa disso. Pior ainda, em agosto de 2024, cerca de cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 500 milhões em bets.

Gente que deveria estar usando esse dinheiro pra comer, pra viver com dignidade, jogando tudo numa promessa digital de milagre financeiro.

Isso me dá um nó na garganta. Porque por trás das propagandas com famosos, dos vídeos coloridos e dos “fature R$ 5 mil hoje mesmo”, tem uma galera que está quebrando emocionalmente. E não tem suporte psicológico, não tem política pública, não tem ninguém por trás para ajudar a levantar depois da queda.

Game é jogo, aposta é armadilha

Eu cresci jogando. Game pra mim é construção. É evolução. É errar, tentar de novo, melhorar. E, com o tempo, entendi que também pode ser carreira, pode ser arte, pode ser comunidade.

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Em 2023, o mercado de games no Brasil movimentou R$ 13 bilhões. São milhares de empregos diretos e indiretos, estúdios brasileiros criando histórias incríveis, gente empreendendo com honestidade. A diferença é clara: o game é uma jornada. A aposta é um clique.

E não, não estou romantizando os games — a indústria também tem seus problemas. Mas a essência é outra. Ninguém entra no LoL ou no CS achando que vai sair rico em 5 minutos. Já nas bets, essa ilusão é o combustível.

O que a gente quer incentivar?

Eu fico pensando: se o Brasil investisse metade do que se gasta em apostas no desenvolvimento de tecnologia, educação digital, jogos nacionais… onde a gente já estaria?

A gente precisa falar de regulamentação, sim. De fiscalização, sim. Mas também de consciência. Porque tem um vácuo emocional aí que as apostas estão preenchendo – a falta de perspectiva, a ausência de oportunidades reais, o desespero.

E, sinceramente? Não dá pra romantizar isso. Não dá pra fingir que está tudo bem enquanto uma geração inteira confunde vício com entretenimento. A gente precisa ensinar a diferenciar um jogo que te faz crescer de um jogo que só quer te sugar.

E agora?

Se você curte jogos como eu, te convido a olhar com mais atenção para o que está por trás da tela. Quem está ganhando com isso? Quem está perdendo? Quem está sendo ouvido?

Que a gente possa continuar jogando – mas com consciência, com propósito, com paixão. Que a gente escolha construir mundos, e não perder o nosso.

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