O mercado de hardware no Brasil vem passando por transformações relevantes nos últimos anos — e não é exagero dizer que finalmente estamos vendo alguns sinais mais concretos de avanço. Impulsionado por saltos tecnológicos, políticas públicas voltadas à reindustrialização e uma demanda crescente por infraestrutura digital, o setor parece, enfim, encontrar um caminho mais promissor.
Mesmo enfrentando velhos entraves, como a dependência de importações e a pesada carga tributária sobre eletrônicos, o País sinaliza que está disposto a enfrentar gargalos históricos. O movimento rumo à modernização e à valorização da cadeia produtiva nacional é visível — e, mais do que isso, necessário para que o Brasil não fique para trás na corrida tecnológica global.
Um estudo recente da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software) aponta que, em 2024, o Brasil voltou a figurar entre as dez maiores potências tecnológicas do mundo. Foram US$ 50 bilhões investidos em TI, sendo 48% alocados no setor de hardware — cerca de US$ 23,9 bilhões.
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Embora tenha havido uma leve retração em relação ao ano anterior, o número deve ser lido com otimismo: trata-se de uma estabilidade que demonstra maturidade do setor e a consolidação de uma base tecnológica mais sólida.
Podemos somar a isso dados Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) demonstrando que o setor eletroeletrônico cresceu 29% em 2024, puxado pela produção de televisores, notebooks, placas-mãe e dispositivos móveis.
Só a produção de equipamentos de áudio e vídeo chegou a 13,4 milhões de unidades — o melhor desempenho desde 2013. São números que, francamente, mostram uma luz no fim do túnel.
Esse desempenho está diretamente relacionado à implementação do programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado em 2024. A proposta é ousada — e precisa ser — ao buscar reposicionar o país como um polo de alta tecnologia.
A aposta em semicondutores, defesa, bioeconomia e TI é mais do que estratégica; é urgente. Substituir importações por produção nacional não é apenas uma meta econômica, mas uma necessidade para garantir autonomia tecnológica e geração de empregos qualificados.
Também iniciativas locais têm mostrado como a produção nacional pode trazer vantagens estratégicas. A Zona Franca de Manaus, por exemplo, executa papel vital no fornecimento de hardware para o mercado brasileiro. Em 2023, o polo representou 15,4% do PIB industrial da região Norte e respondeu pela produção de grande parte dos dispositivos eletrônicos vendidos no país.
Já em 2024, o setor de informática na ZFM apresentou um crescimento notável, com um aumento de 5% no comparativo anual e 13% no mensal, atingindo um faturamento de R$ 3,4 bilhões. A logística favorecida, os incentivos fiscais e a mão de obra especializada são diferenciais que tornam a região uma referência no setor.
Essas movimentações, porém, não diminuem os desafios, que continuam sendo expressivos. O fenômeno da desindustrialização precoce — que retirou o protagonismo da indústria nacional antes que ela atingisse um estágio de competitividade global — ainda impõe barreiras ao desenvolvimento do setor.
Fatores como burocracia excessiva, infraestrutura deficiente, sistema tributário complexo e os elevados custos operacionais, conhecidos como “Custo Brasil”, prejudicam a competitividade das empresas nacionais frente às gigantes asiáticas e norte-americanas.
Lado do consumo
Além do aspecto industrial, é importante considerar o comportamento do consumidor brasileiro. Com o avanço da digitalização e o crescimento do home office, houve um aumento expressivo na demanda por computadores, periféricos e soluções de rede.
O consumidor passou a priorizar desempenho e eficiência energética, o que forçou fabricantes a investirem em produtos mais sofisticados, como memórias DDR5, SSDs NVMe, e placas de vídeo de última geração. Essa demanda impulsiona o varejo e incentiva a modernização constante dos produtos ofertados no mercado nacional.
Em resumo, o mercado de hardware no Brasil vive um momento de transição – entre as promessas e a concretização – com um grande potencial de desenvolvimento. O impulso governamental, somado à demanda tecnológica crescente, cria um cenário fértil para o crescimento.
Mas é preciso ir além das intenções. Fortalecer a produção local, modernizar a infraestrutura e investir seriamente em capacitação técnica será determinante para que o Brasil, de fato, se torne um protagonista regional — e, quem sabe, global — no setor de hardware.