Nos últimos anos, a indústria dos games vem protagonizando um movimento preocupante: um distanciamento entre as grandes publicadoras e seus consumidores. Mais do que desconexão, o que a comunidade gamer tem sentido é um desrespeito crescente, uma postura que trata os jogadores com descaso, ignorando seu poder de escolha.
Empresas que antes se conectavam profundamente com suas comunidades passaram a tratá-las como meras cifras, negligenciando a escuta ativa e apostando em decisões de curto prazo voltadas exclusivamente à maximização de lucro.
O reflexo mais evidente disso está nos lançamentos recentes e na maneira como são conduzidos. Dois exemplos emblemáticos, e recentes, deixam claro o quanto essa desconexão tem se agravado.
O primeiro vem da Nintendo. A empresa anunciou o tão aguardado Switch 2, um avanço técnico considerável, embora fuja um pouco da essência criativa que consagrou a marca. O problema, porém, não está apenas no preço, US$ 450 pelo console e US$ 500 pelo bundle com Mario Kart World (a expectativa girava na casa dos US$ 400). O que realmente causou indignação na comunidade foi a forma como essa informação foi comunicada – ou, sendo mais preciso, a ausência de comunicação a esse respeito.
No evento oficial de apresentação, o preço sequer foi mencionado. A responsabilidade por descobrir quanto custaria o novo console ficou nas mãos do consumidor, que precisou correr atrás da informação não apenas no site oficial da Nintendo, mas também em diversos veículos de comunicação. A informação ficou completamente fragmentada, espalhada entre fontes distintas, o que tornou o processo ainda mais confuso.
Esse tipo de decisão comunica, direta ou indiretamente, que a empresa enxerga o consumidor como alguém que vai pagar qualquer valor, sem questionamentos. É o equivalente a dizer “você vai comprar de qualquer jeito, então nem precisamos explicar direito.”
Outro caso é o da Sony, que acaba de relançar pela sexta vez jogos da franquia The Last of Us. Mesmo sem demanda clara, a empresa apostou em mais uma reedição do título a um preço altíssimo: R$ 500 no Brasil, o equivalente a um terço do salário-mínimo. Enquanto isso, o mesmo jogo frequentemente entra em promoção na própria loja da PlayStation.
A mensagem que fica é a mesma, explorar a base de fãs apaixonada em vez de inovar ou oferecer algo genuinamente novo.
Esses exemplos não são isolados, mas sintomas de um modelo de negócios que coloca o consumidor em segundo plano. Ao seguir por esse caminho, a indústria intensifica uma crise que já é real: jogos cada vez mais genéricos, não finalizados, sem identidade ou alma. Em vez de arriscar e investir na criatividade, optam pelo seguro, pelo previsível, pelo mais rentável.
O mercado publicitário pode, e deve, aprender com esse cenário. Marcas que ignoram suas comunidades, que deixam de ouvir, que não respeitam o tempo e o bolso do consumidor, acabam por perder relevância.
O gamer de hoje é crítico, informado e engajado. Ele não quer apenas um produto, quer uma experiência, uma história, uma relação.
As publicadoras precisam urgentemente resgatar essa conexão. Mais do que cifras, estão lidando com pessoas. E isso deveria significar tudo.