Indústria dos games deve seguir em ‘modo hard’ em 2025, mas há esperanças

Mesmo em crescimento, indústria enfrenta layoffs, incertezas e dilema entre criatividade e lucro. O jogo nunca foi tão desafiador
Imagem: Canva

Você também percebeu uma mudança nos sentimentos relacionados à indústria dos games? É como se nos últimos anos a empolgação tenha dado lugar à incerteza, a confiança à cautela, o otimismo ao ceticismo.

Se espera que o mercado de games global alcance US$ 522 bilhões em 2025, crescimento de mais de 7% em relação a 2024. E mesmo assim demissões, cortes e otimizações tomam conta das manchetes há anos.

Cada vez mais as conversas que participo em rodas de profissionais que se encontram em eventos como Brasil Game Show (BGS), Gamescom e Game Developers Conference (GDC) são sobre as incertezas do mercado e menos sobre os incríveis jogos lançados. Mas se a indústria cresce em ótimo ritmo e espera alcançar a impressionante marca de US$ 691 bilhões em 2029, por que o discurso continua tão pessimistas?

Uma pesquisa realizada pela American Gaming Association em 2024 revelou que 32% dos CEOs esperam que as condições de negócios melhorem nos próximos seis meses. Já 59% dos desenvolvedores de games dizem que a indústria está em um mal momento.

É uma dualidade complexa, mas que explica exatamente a dinâmica que acontece no mercado e suas consequências.

Qual seria o segredo, então, para uma indústria de games equilibrada e sustentável? A resposta, aparentemente, varia de acordo com o interesse do acionista, e não do gamer.

A Hasbro certamente dirá que é criar um jogo digital altamente rentável, afinal de contas, US$ 112 milhões do seu faturamento de US$ 472 milhões vieram somente de Monopoly Go. O Embracer Group vai dizer que o segredo é corte de gastos e otimização, já que os planos para 2025 após anos de aquisições desenfreadas incluem o fechamento de estúdios, cancelamento de projetos de desenvolvimento e redução de custos operacionais.

A Sony diria que é fugir dos GaaS (jogos como serviços) após o desastre de Concord, cancelamento do multijogador de The Last of Us Part 2 e declínio de Destiny 2. Já a NetEase pode provar que ainda é possível sim fazer um GAAS de sucesso: Marvel Rivals alcançou 40 milhões de jogadores, liderou as vendas na Steam ajudando a empresa a registrar uma receita de US$ 11,5 bilhões em 2024, aumento de 1,5% em relação aos US$ 11,2 bilhões de 2023.

Mas quem quer crescer só 1,5%? Por isso, a mesma NetEase anunciou demissões– ainda que não tenha justificado quantas e o motivo.

A conclusão é simples: não existe segredo. A empresa dá dinheiro? Ótimo, espera-se que ela dê ainda mais no próximo ciclo. Se isso não for possível, a regra não escrita orienta que se mude as estratégias, corte, otimize, venda, demita. O que for preciso.

E a criatividade? Claro, existe espaço para debate: quantos milhões a sua ideia vai mover?

Inovação? É prioridade, mas só quando é garantido que o valor de mercado vai crescer o dobro do que antes.

É compreensível que o amadurecimento da indústria de games tenha atraído dinâmicas clássicas do mercado de capital. Cinema, música e tecnologia passaram e passam pelos mesmos desafios. No entanto, enquanto gamer, nunca é fácil lidar com a possibilidade de que a decisão de se fazer um novo Dungeon & Dragons, por exemplo, possa não ser mais prioridade quando um jogo mobile representa, sozinho, quase um quarto do faturamento da empresa.

Por mais desanimador que seja ver a criatividade sendo sufocada por balanços financeiros, sigo otimista. A imprevisibilidade de uma indústria criativa ainda me dá esperanças de que o que mais amo nos games sempre será o que guiará o mercado e seus interesses de capital, e não o oposto.

Para cada sucesso como Balatro, surpresa como Helldivers 2, constatações de qualidade como Avowed e expectativa como Grand Theft Auto 6, a chama se mantém acesa.

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