Criada em 2017 e responsável por estratégias de live marketing e participação em eventos de grandes empresas brasileiras, a V3A aposta no mundo dos games desde 2019. A agência é dona da Good to Game (GTG), que executa projetos e serviços de consultoria para marcas que querem alcançar a tão cobiçada geração Z e os gamers de modo geral, inclusive em grandes eventos como a Brasil Game Show e o Intel Extreme Masters (IEM).
Essa vertical em específico foi criada em 2021, após a V3A experimentar projetos de sucesso no segmento gamer. Ela se dedica a eventos proprietários como o Prêmio eSports Brasil (PeB), e o Multiplataform Esports Games (MEG), ambos em parceria com a Player1. A competição de eSports multimodalidades para a América Latina vai ganhar uma nova edição em 2025 após um hiato no ano passado.
A informação foi confirmada com exclusividade ao The Gaming Era por Belle Carvalho, head de projetos especiais da V3A e uma das responsáveis pelo campeonato na GTG. A empresa promete mais detalhes sobre o evento “em breve”.
“É um campeonato olímpico no sentido de que reúne muitas modalidades e comunidades, só que com a diferença que todos conseguem participar. O MEG tem inscrições abertas e gratuitas, é muito democrático”, diz a executiva.
Na entrevista abaixo, Belle fala um pouco sobre as mudanças no mercado brasileiro – e global – de esportes eletrônicos. Para ela, marcas precisam ter visão de longo prazo em projetos no segmento gamer, inclusive porque grandes eventos devem agitar o mercado ainda esse ano.
Confira:
TGE: O cenário de eSports ainda enfrenta um momento de acomodação, com mudanças nos campeonatos, saídas e entradas de marcas, fim de algumas organizações. Como você enxerga esse momento?
Belle Carvalho: Eu acho que é preciso um pouco de paciência. Não é o imediatismo que vai funcionar nessa indústria. Tem um leque muito amplo de oportunidades dentro de games e eSports e são várias estratégias. Não existe receita de bolo.
Acho que é preciso um planejamento consistente e de longo prazo. Para as marcas, existe opção de patrocinar atletas, equipes, eventos, feiras. Tem crescido a publicidade dentro dos games, como campanhas em jogos como Fortnite ou Free Fire. As marcas conseguem criar experiências, respeitando a cultura gamer e fazendo parte daquilo.
Quando a marca não só liga o nome a um evento, mas realmente cria experiências que vão engajar o público, respeitando a cultura gamer, ela está embarcando em uma estratégia de longo prazo. É uma construção.
TGE: Existe um diagnóstico do mercado de que o setor falhou na hora de apresentar resultados para as marcas, e muitas delas decidiram sair. Você concorda?
Belle: É um mix entre a percepção das marcas que ficaram enviesadas e de desconhecimento. Os indicadores em si, quando se mostra números de transmissão e alcance, são positivos. As votações do PEB, por exemplo. No MEG são milhares de inscritos, um campeonato super inclusivo e democrático.
Uma forma de comparar é com os esportes tradicionais. O skate e o surfe eram marginalizados no passado e hoje está todo mundo torcendo pela Raíssa [Leal, medalhista olímpica brasileira]. Os eSports ainda tem esse desconhecimento, são um pouco marginalizados. Mas eles também são atletas, com uma equipe técnica por trás.
TGE: Você está otimista para 2025 quanto aos rumos do mercado de eSports?
Belle: Eu estou bem otimista. Com certeza vai ser melhor. Teremos a Olimpíada, e a Copa do Mundo [2025 Esports World Cup] também. Os sauditas fizeram a primeira e com certeza vai ser muito maior [esse ano]. São dois movimentos internacionais muito relevantes para o cenário que vão acabar transbordando para fora dele.
No Brasil como um todo não sabemos como vai ser essa história de olimpíada. Quem serão os classificados, se vai ser via confederação ou times. Mas pelo que estamos vendo, no mercado já existe uma movimentação, de tentar se preparar para esses eventos internacionais.
Nos governos também, passada a eleição. No Rio de Janeiro o Eduardo Paes pretende colocar o esporte eletrônico na grade das escolas. Eu tenho tido conversas com outros governos e prefeituras que tem muito interesse [nos eSports]. Também em levar capacitação para alunos e jovens e formar desenvolvedores e programadores.
TGE: Esse interesse vem de fora do eixo Rio-São Paulo? Como você observa essa movimentação de governos regionais em torno dos esportes eletrônicos?
Belle: No último mês recebi contato do Ceará, de Brasília, de Curitiba. Está todo mundo ao menos curioso de saber o que fazer, por onde ir. Tenho visto esse movimento vir de governos e secretarias, as próprias federações locais.
Mas é um movimento que sinto falta nas marcas tradicionais. É mais do setor público mesmo. De todas as regiões do Brasil.
TGE: Você acredita que há potencial de transformação social nos esportes eletrônicos? Como?
Belle: O MEG tem muito isso de dar oportunidades. Fizemos em 2021 o Cruzada eSports, projeto social piloto que levou os games para crianças e jovens da comunidade Cruzada São Sebastião, no Rio de Janeiro. Um centro de capacitação em eSports e criação de conteúdo.
Tudo que movimenta a indústria pode ser suficiente para alguém sair da miséria, como o futebol já tirou muitas pessoas. Mas muitas vezes hoje em dia o moleque quer jogar Free Fire.
Os eSports tem essa pegada social, esse potencial para ajudar muitas pessoas, a economia e a própria indústria.
TGE: Aproveitando que você mencionou o MEG, a última edição foi em 2023. Teremos o retorno da competição em 2025? E qual a importância dele para o negócio da V3A e da GTG?
Belle: É um projeto nascido das raízes do WESG Latam. Ele tem essa pegada do “olimpismo”, uma olimpíada com várias modalidades. Quando éramos representantes do WESG, só podíamos ter quatro modalidades: Dota, Starcraft, Counter-Strike e futebol.
Quando a parceria foi descontinuada pudemos trazer modalidades que faziam mais sentido para o nosso mercado, e foi aí que entrou League of Legends, Valorant, Brawstars e Tekken. Fomos expandindo e ficando mais de acordo com o interesse da comunidade daqui.
É um campeonato olímpico no sentido de que reúne muitas modalidades e comunidades, só que com a diferença que todos conseguem participar. O MEG tem inscrições abertas e gratuitas, é muito democrático. A qualificação aberta atrai milhares de pessoas, e afunilamos nos playoffs, o que traz muito engajamento.
Em 2023 a final do Valorant foi Furia vs XIT, um time de comunidade sem patrocínios nem nada. Eles perderam, beleza, mas chegaram na final e a comunidade estava vidrada. Depois eles foram contratados pela Legacy. Isso é muito interessante.
É um projeto pelo qual tenho muito carinho. E ele vai acontecer em 2025.
* 03/02, às 16h50: alterado para esclarecer a participação da Player1 também na organização do MEG