EXCLUSIVO: Projeto Nintendistas quer contar história singular da Nintendo no Brasil

Com André Forastieri, Pablo Miyazawa e Rodrigo Coelho entre os sócios, projeto em pré-venda resgata time original da Nintendo World em livro e (futuro) documentário
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Capa provisória do livro Nintendistas. Imagem: Divulgação

André Forastieri, figura histórica do mercado editorial brasileiro e um dos sócios por trás do Projeto Nintendistas, lançado em pré-venda nessa segunda-feira (11), tem uma explicação elaborada sobre as razões que fazem a Nintendo ter tantos e tão apaixonados fãs mundo afora. Começa com um pouco de filosofia empresarial (“Nintendo é uma mistura de Apple com Disney”), descamba para a análise concorrencial, depois tecnológica, alcança a cultural (“Por que não faz um Zelda todo ano? Por que não! Aqui é o Japão! Tem que fazer bem-feito!”) e termina na psicanálise.

“Não importa se você tem 20, 30 ou 50 anos, quando pega um novo Mario para jogar sua cabeça faz ‘boom!’, e vem o Mario e faz ‘plim!’”, explica ele, com cara de satisfação enquanto faz gestos sobre a cabeça, como se faltassem palavras para descrever exatamente o que acontece na mente de alguém quando o mascote da Big N aparece na tela.

“Quando você se senta para jogar FIFA ou Call of Duty, por mais apaixonado que você seja, não vira aquele cara de oito anos de idade de novo. O [Sigmund] Freud dizia que somente a realização dos desejos infantis traz satisfação. Minha explicação é essa”, encerra.

Forastieri, o Forasta, como é mais conhecido, começou a carreira no fim dos anos 1980 como repórter da Folha de S.Paulo. Nos começo da década de 1990, foi editor das revistas SET (sobre cinema) e Bizz (sobre música). Em 1993 ajudou a fundar a Editora Acme, depois renomeada para Conrad. Lançou em 1994 a Revista Herói, que aproveitou o sucesso do anime Cavaleiros do Zodíaco para mudar para sempre a forma como se faziam publicações infanto-juvenis no Brasil.

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André Forastieri. Foto: Arquivo pessoal

A Nintendo entrou na vida de Forastieri em 1998, quando ele era diretor da Tambor e procurou a fabricante japonesa com a ideia que o tornou o primeiro editor-chefe da revista Nintendo World, lançada em setembro daquele ano com notícias, análises e dicas sobre os games da Big N – e só sobre eles. Era uma publicação autorizada e aprovada a cada edição pela empresa japonesa, mas não produzida diretamente por ela, modelo até então inédito no mundo.

(A Nintendo Power, fundada dez anos antes nos EUA, era uma revista oficial de fato – a redação chegou a funcionar na sede da Nintendo of America em Redmond.)

A equipe original da Nintendo World era formada por Forastieri, Marcelo Del Greco e Ricardo Matsumoto (editores-assistentes); Eduardo Trivella (representante da própria Nintendo que atuava como editor-contribuinte); Pablo Miyazawa (colunista e sócio deste The Gaming Era) e Rogério Motoda como repórteres; e José Carlos Assumpção e Eurico Sakamoto (arte e diagramação). Foi um sucesso: algumas edições chegaram a vender mais de 100 mil exemplares após duas reimpressões.

A forma inusitada como a Nintendo lançou a revista oficial no Brasil ecoava, em alguma medida, o modelo único que ela própria escolheu para aterrissar no País. Ao invés de atuar com venda direta, o primeiro console da marca por aqui – o Super Nintendo (SNES) – só chegou em 1993 por meio da Playtronic, uma joint venture entre a Gradiente e a fabricante de brinquedos Estrela. Foi a primeira e única vez que a empresa japonesa usou parceiros de fabricação em um território.

O Projeto Nintendistas, que reúne Miyazawa, Forastieri e o influenciador Rodrigo Coelho, o Coelho no Japão, quer resgatar as duas histórias – da revista Nintendo World e a da própria Nintendo no Brasil – em um único livro, um impresso nobre em material inédito e edição limitada. A campanha de financiamento coletivo começa no próximo sábado (16), data de aniversário de Shigeru Miyamoto, criador de Mario e Zelda.

Projeto Nintendistas: promessa antiga

“Faz anos que o Pablo e o Coelho falam disso [fazer o livro]. Eu não queria participar. Falei que eles não precisavam de mim”, lembra Forasta, a respeito do agora caminhando Projeto Nintendistas. Pergunto o que mudou. “Eu achei que podia ser útil. São caras muito criativos, bem-sucedidos em suas áreas, mas não são putas velhas de negócios como eu. Basicamente é isso”, diz, rindo.

Forastieri explica que está atuando como executivo do projeto, simplificando processos, fazendo negociações, operando a campanha de financiamento coletivo – que será hospedada pelo Catarse – e estando “de olho no conjunto da obra”. “Os caras são muito amigos, e eu posso chegar e ser o chato”, brinca. A WarpZone, editora nacional focada em materiais relacionados a games, também é parceira da iniciativa.

“E eu também achei que podia ser útil para tornar esse projeto rentável. Porque ele é feito de paixão. E eu sempre digo que paixão é paixão. E trabalho é trabalho, cara!”, diz, ponderando que o projeto, apesar de todo apaixonamento envolvido, precisar ser rentável ou “vai ficar malfeito!”. “Tem que fazer um negócio legal, muito legal, para que o fã fique muito feliz, e cada um [que vai trabalhar no projeto] ganhe bem, porque eles vão trabalhar pra caralho.”

Apesar de ser o editor original e um dos sócios da Nintendo World, Forasta diz que não tem todos os números da revista em seu acervo pessoal – a NW foi publicada entre setembro 1998 e abril de 2017, entre períodos de hiato e mudanças de equipe. Mas diz guardar “coisas legais”, incluindo miniaturas “que ninguém tem” e o “boneco” da edição número 1 – chavão do jornalismo para a prova impressa de uma revista ou livro feita antes da impressão.

Vídeo da campanha de divulgação do Projeto Nintendistas. Fonte: canal Coelho no Japão

O editor-chefe original da NW acredita que o Projeto Nintendistas tem um grande potencial de adesão na fase de financiamento coletivo. Apesar do preço “premium”, ainda há por aí milhares de fãs da revista e milhões de aficionados por Nintendo, o público-alvo da iniciativa.

A primeira faixa de contribuição será de R$ 250 (R$ 200 com desconto no “early bird”, reservado para quem se cadastrar no site da iniciativa até 15 de novembro). Forasta lembra que o livro “jamais estará nas livrarias”, reforçando o caráter exclusivo do material, além das “muitas recompensas digitais e físicas”.

“Quando batermos a primeira meta e revelarmos as recompensas da meta 2, quem já contribuiu vai fazer campanha para bater. Então as pessoas vão querer que o livro exista, que as recompensas existam e o documentário também”, diz. “Acredito que vamos ter muito mais do que mil pessoas interessadas.”

Para velhos e jovens

O Projeto Nintendistas foi anunciado durante a última Retrocon, em agosto desse ano. Promete trazer materiais inéditos dos mais de 30 anos da chegada da Nintendo no Brasil, e dos mais de 25 do lançamento da Nintendo World, incluindo duas longas entrevistas inéditas feitas por Miyazawa com Shigeru Miyamoto. Entre os participantes do financiamento coletivo, será sorteada uma revista autografada pelo próprio criador do Mario.

Parte dos apoiadores receberá um fac-símile dessa mesma capa em papel especial para “enquadrar ou colocar na coleção”. É, segundo Forastieri, um “negócio diferente”. “Tem outras coisas desse tipo direto do baú do Pablo e do Coelho. Coisas que eles foram juntando das E3. Um mix que vai ser muito interessante para as pessoas”, conta.

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Miyazawa mostra capa da NW autografada por Shigeru Miyamoto e que será sorteada entre apoiadores do Projeto Nintendistas. Foto: Arquivo pessoal

Há ainda o plano de fazer um documentário com as entrevistas captadas para o livro, além de materiais inéditos em vídeo. “Temos planos mirabolantes que não vão estar no YouTube para todo mundo ver. Vai ser diferente”, antecipa.

Pergunto para Forasta se o livro, um material especial com tantas histórias “das antigas”, também tem potencial para atrair novas gerações, particularmente aquelas que sequer leram a Nintendo World quando a revista circulava. “O cara que gosta muito de uma coisa quer saber [mais sobre ela]. Ele gosta desse universo”, responde, ressaltando que vai ser um material “visualmente muito bonito”.

“Então eu acho o fã jovem, que é fã mesmo, e curte a Nintendo e a cultura, vai se reconhecer. É a história da Nintendo no Brasil, então acho que tem apelo para essa galera sim”, diz.

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