A Avell, fabricante catarinense de notebooks de alto desempenho, inclusive gamers, faturou em 2023 cerca de R$ 158 milhões, apesar de ter sido um ano de “fomentar a base”. Segundo o fundador e presidente do conselho da empresa, Emerson Salomão, a companhia – que completou duas décadas em 2024 – fará mais de R$ 200 milhões até o fim do ano, com perspectiva de chegar a R$ 250 milhões em 2025.
A marca cresceu nos últimos anos principalmente por conta das ofertas direcionadas para profissionais que precisam de computadores mais potentes – como designers, arquitetos e dentistas, entre outros –. Salomão admite, em entrevista exclusiva ao The Gaming Era, que não estava “dando a devida atenção” para o segmento gamer ao longo do último ano, apesar dele ainda representar 30% do faturamento.
“Hoje 70% [do faturamento] é da linha profissional (…), bem mais expressiva”, conta ele, mas explica que vai mudar a estratégia para o próximo ano. “[O gamer] continua com todo o potencial”, pondera, explicando que novos equipamentos, inclusive alguns high end com placas Nvidia 4090, vão continuar chegando pelas mãos da Avell.
Apesar do crescimento da Avell no segmento corporativo, na conversa Salomão não parece preocupado com tornar a marca tão conhecida como as multinacionais concorrentes, como Lenovo, Dell ou Asus, por exemplo. Para ele, trata-se de um crescimento orgânico.
“Vamos continuar trabalhando os nichos. Não temos a intenção de investir em marketing para o grande público”, diz, dizendo que atualmente só 30% dos brasileiros já ouviram o nome da marca. “Entendemos que nosso negócio é o nicho e o alto desempenho.”
Desde 2020 todos os produtos da Avell são montados na Zona Franca de Manaus, enquanto a sede administrativa fica em Joinville (SC).
Confira a entrevista:
The Gaming Era: Em 2024 a Avell completou 20 anos. O que a data significa para a marca?
Emerson Salomão: Pessoalmente, tenho muito orgulho. A Avell não é tão conhecida do grande público, mas no segmento em que trabalhamos é. Criar uma marca competindo com multinacionais é bem difícil, o poder que elas têm é gigante. E sobrevivemos todo esse tempo, claro, mudando estratégias.
Quando nascemos a marca não era para ser gamer, mirávamos o mercado mainstream. E era bem complicado competir. Os primeiros anos foram para aprender a trabalhar.
A partir de 2010 começamos a montar notebooks gamers. O mercado nacional já tinha a Acer, a Asus, a Dell, mas eles traziam [equipamentos gamers] importados.
E foi dando certo. Passamos por uma reestruturação nos últimos dois anos e estamos preparados para crescer mais.
TGE: A Avell nunca mirou o mercado de varejo, apesar de fazer incursões em segmentos diferentes do gamer. É um objetivo futuro?
Salomão: Vamos continuar mirando o mercado de alto desempenho. Entre as marcas nacionais, somos mais fortes. Sem desmerecer as outras, mas o posicionamento é diferente.
Começamos a trabalhar com a linha profissional, para arquitetura, engenharia, foto e vídeo, recentemente odontologia, e percebemos que as empresas compravam muitos equipamentos para softwares mais pesados. E começamos a construir um relacionamento com essas empresas.
E vimos que a oportunidade entre as empresas era grande mesmo sem sermos uma marca de varejo. Nosso trabalho de marketing é voltado para o alto desempenho, e a área comercial atua também no office, que é um mercado mais de entrada, mas que mesmo assim compra equipamentos legais.
A linha office é uma oportunidade grande, mas a concorrência também é. Batemos de frente com Lenovo, Dell, Acer, Asus… Mas há muito mercado. Ao mesmo tempo em que a margem é menor, temos criado um volume interessante. E conseguimos atender um público que não atendíamos antes.
Temos atendido empresas atuam no mercado corporativo e são especializadas. E temos o esforço de assinaturas. O aluguel [de PCs] tem trazido volume expressivo, em torno de 5% do faturamento. Mas estamos começando do zero e devemos investir mais esforço nele.
TGE: O segmento corporativo representa que percentual do negócio da Avell hoje? E o gamer?
Salomão: Hoje 70% [do faturamento] é da linha profissional, e entre 25 e 30% da linha gamer. A parte profissional é bem mais expressiva.
Tanto que a gente parou um pouco com o gamer, não estávamos dando a devida atenção para ela, e esse ano lançamos equipamentos novos. Tem até linha com [a placa gráfica] RTX 4090.
TGE: E por que vocês deixaram ‘de lado’ a linha gamer? O potencial desse portfólio diminuiu no Brasil?
Salomão: Continua com todo o potencial. Inclusive o mercado [de notebooks] com placas de vídeo dedicadas cresce todo ano. Depois da pandemia tivemos uma queda, mas o mercado de alto desempenho continua crescendo ano a ano.
Demos uma atenção maior para o mercado profissional por que era onde estávamos conseguindo explorar novos caminhos.
Por exemplo na odontologia, mercado que se não for nosso primeiro é o segundo em vendas. Tivemos que colocar bastante esforço para entender [como funciona], porque o mercado de odontologia está mudando muito. Os scanners precisam de equipamentos mais potentes.
E a concorrência no segmento gamer ficou bem pesada também. Sendo uma empresa menor, e brasileira, é preciso ir pelas brechas, onde as grandes não estão.
Não deixamos de ter o gamer. Voltamos a pensar mais no segmento e lançamos uma linha para o gamer, a Storm. Ela é Avell, mas dedicada. E a Ion é a linha profissional. Foi a estratégia.
TGE: Vários dos concorrentes da Avell, inclusive multinacionais, tem apostado em notebooks e PCs mais caros por aqui, às vezes superando os R$ 30 mil. Como isso afeta a estratégia de vocês?
Salomão: Nós éramos os primeiros a lançar gerações novas da Intel no Brasil, Nvidia também. Não havia diferença para gente do que estava lá fora e no Brasil. Claro que isso exige um trabalho antes com o fornecedor, às vezes meses, até um ano antes.
Posso considerar que está ficando muito mais curto [a janela de lançamentos], mas nosso diferencial sempre foi lançar os tops de linha antes de todo mundo. Agora tanto Dell como Asus e Lenvo estão trazendo mais rápido.
Dificulta [para a Avall], claro, mas também faz a gente se mexer. De brigar de igual para igual com eles. Temos equipamentos de R$ 30 a R$ 35 mil também, com tudo o que tem de direito.
TGE: Queria aproveitar para falar com você sobre o cenário de processadores. Os ARMs estão chegando ao PC com tudo. Como você avalia essa tendência? A Avell também vai apostar em processadores Qualcomm, por exemplo?
Salomão: Ainda não vamos. Temos conversas com a Qualcomm, mas sem prazos para lançar. Estamos avaliando.
Eu estive na última Computex. A Qualcomm fez uma área bem grande só para isso [o Snapdragon X]. Vimos o potencial do processador, e das NPUs. Mas o que eu vejo na prática? Que já lançamos um produto com NPU, que é (Intel Core) Ultra. Mas vemos que existe uma certa resistência. Eu imaginei que as pessoas iam gostar mais, mas não aconteceu nessa velocidade. Elas ainda estão meio resistentes e temos que avaliar se lançamos ou não.
Eu acho que ainda precisa de volume [de vendas]. E isso só se consegue quando o grande público compra a ideia, por melhor que seja o produto ou a tecnologia.
Não tenho dúvida de que muita coisa está acontecendo [no mercado de CPUs], e vai ter muito mais, mas talvez em um ritmo que vai ter que se encaixar. E aí começam a fazer sentido esses processadores, quando o cliente tiver a noção que precisa rodar uma aplicação de inteligência artificial na própria máquina, não na nuvem.
TGE: Na prática você está dizendo que o usuário final ainda não vê tanto valor na inteligência artificial nos notebooks e computadores. É isso?
Salomão: Eu vejo que não. Lançamos um produto com NPU, o processador Core Ultra da Intel, e temos vendido muito pouco em relação ao que imaginávamos. Isso não está fazendo tanta diferença para as pessoas ainda.
Elas preferem pagar por uma placa de vídeo, um Core i9. Aas pessoas ainda têm pouco entendimento disso, do núcleo específico para IA. Quando houver um aplicativo ou software que vai exigir uma NPU, aí a pessoa começa a entender que vai precisar [de novos processadores].
Se ele sabe que um jogo precisa de uma RTX 4060 para rodar, ele vai atrás. Acho que é a mesma coisa com a IA.
TGE: E como foram os resultados da Avell ao longo de 2023? E qual a expectativa de 2024?
Salomão: Estamos crescendo bem acima do mercado. Passamos 2023 trabalhando para fomentar a base e tivemos um faturamento maior, de R$ 158 milhões. Esse ano ficaremos acima de R$ 200 milhões. É um crescimento bem expressivo.
Estamos lançando novos produtos. Mouses tanto para a linha office como gamers, headfones, monitores. Estamos apostando em outros produtos ainda em 2024 e a tendencia é lançar novos [em 2025].
Nossa expectativa é fazer R$ 250 milhões ano que vem.
TGE: Você admitiu no começo da nossa conversa que a Avell não é uma marca tão conhecida do grande público. Vocês pretendem mudar isso, do ponto de vista de marketing?
Salomão: É uma questão orgânica para nós. Vamos continuar trabalhando os nichos.
Não temos a intenção de investir em marketing para o grande público. Hoje 70% [dos brasileiros] não conhecem a Avell, e os 30% [que conhecem] são do nicho.
Mas entendemos que nosso negócio é o nicho e o alto desempenho. Mas organicamente isso [ser conhecido] vai acontecer. Se continuarmos nesse ritmo é natural que aconteça.