Se o calendário gamer paulistano ao longo desse fim de semana está inteiramente pautado pela Brasil Game Show, no Rio de Janeiro o Intel Extreme Masters (IEM) de 2024 é provavelmente a estrela. Organizado pela alemã ESL em torno de Counter-Strike 2, o competitivo mais famoso da Valve, a competição começa nessa sexta-feira (11) e vai até domingo (13) com o apoio de várias marcas, a principal delas justamente a americana Intel.
É o terceiro ano consecutivo em que a “cidade maravilhosa” sedia essa competição em específico, muito embora o “major” de 2022 tenha sido, em termos de importância, o maior deles, tendo distribuído mais de US$ 1,2 milhões em prêmios. A edição desse ano, embora classificatória, deve distribuir US$ 250 mil e amealhar uma audiência ainda maior que a média de 250 mil expectadores contabilizados no IEM de 2023 – ao menos segundo a própria ESL.
“No ano passado, tivemos mais de 562 mil espectadores em momentos de pico (…) quando o Team Vitality garantiu a vitória sobre o Heroic nas grandes finais. No evento desse ano, esperamos continuar esse sucesso e receber mais de 24 mil fãs [presencialmente] durante os três dias”, diz Marc Winther Kristensen, diretor da ESL FACEIT Group para o ecossistema de Counter-Strike, em entrevista por e-mail ao The Gaming Era.
Serão 16 times de CS2 de todo o mundo no IEM Rio 2024 até domingo, quando ocorre a final. O time vencedor garante US$ 100 mil e pode avançar para o ESL Pro Tour de 2025. Além do Vitality e do Heroic, participam esse ano das classificatórias os brasileiros Furia, paiN e Imperial, além de outras organizações do resto do mundo.
Ingressos para a competição ao vivo no Farmasi Arena, no bairro da Tijuca, ainda podem ser comprados no site oficial do IEM Rio 2024, mas a maioria já estava esgotada no momento da publicação dessa reportagem. Haverá, claro, transmissão ao vivo no FACEIT Watch, a plataforma aberta da ESL, e nos canais de Counter-Strike na Twitch e no YouTube.
Os preços dos ingressos variam entre R$ 95 (meia entrada) e R$ 700 (para os três dias, já esgotado).
Cenário de ‘impacto tremendo’
Quando perguntado sobre a razão de o Rio de Janeiro ser um dos palcos prioritários para a realização de eventos de CS pela ESL, Kristensen responde com uma história. Segundo ele, a empresa organizadora percebe a audiência brasileira como “apaixonada e dedicada” desde o primeiro IEM por essas bandas, o que na prática significa ter não só grandes espetáculos, mas também um bom retorno.
“A resposta foi esmagadora. Os ingressos esgotaram em uma hora após serem disponibilizados e tivemos que aumentar nossa capacidade geral de público para receber mais de 100 mil fãs ao longo do evento. A comunidade brasileira causou um impacto tremendo ano após ano e mal podemos esperar para recebê-los de volta”, conta o executivo, se referindo ao público do major de 2022.
Naquele ano, o interesse pelo evento foi tão grande que a organização precisou adicionar um local à competição, que ocorreu tanto no Riocentro como na então Jeunesse Arena (hoje Farmasi Arena).
O executivo não responde se uma nova rodada do IEM acontecerá no Rio de Janeiro ou outra cidade brasileira também em 2025, e prefere somente elogiar a capital fluminense como palco de “paixão e vivacidade”. Mas diz que esse engajamento “é um lembrete constante do porquê escolhemos o Rio para ser lar do IEM no Brasil”.
Parceiros e expectativas
O Intel Extreme Masters tem a fabricante americana de semicondutores no nome pelo menos desde 2007, ou seja, são 17 anos consecutivos de apoio da marca. Carlos Augusto Buarque, o Guto, diretor de marketing da Intel Brasil – e colunista do The Gaming Era –, lembra que a realização do IEM no País era um desejo antigo da filial local pelo menos desde 2014, quando ocorreu por aqui a Copa do Mundo de futebol da FIFA.
Quando o desejo ia finalmente se concretizar, era 2020 e a pandemia de COVID-19 impediu os planos.
“A gente já via o potencial do IEM por aqui por causa de popularidade de CS no Brasil. Víamos que ia se tornar algo muito grande porque acompanhávamos a repercussão das transmissões online que o Gaules fazia. Era uma popularidade muito grande”, lembra Guto ao TGE. “Aí veio 2022 e a notícia de que o primeiro IEM no Brasil seria um major. Foi um evento que marcou a comunidade e mostrou que o Brasil tem capacidade e público para um campeonato gigante.”
Para o executivo, ter o nome da Intel no nome do campeonato é quase um “asset” (um ativo), tamanho sua popularidade. “Somos a empresa que está apoiando a paixão daquele fã. É muito legal ter essa conexão com o público, que vê que somos nós viabilizando esse tipo de campeonato no Brasil”, explica.
Pergunto à Guto que métricas a Intel usa para saber se o investimento no campeonato deu retorno. O IEM Rio é operacionalizado sobretudo pela ESL, mas é aproveitado pela fabricante como oportunidade de relacionamento e geração de negócios, o que significa ter um estande em parceria com outras marcas e organizar uma série de “ativações” ao longo do torneio.
Ele me responde que mede “tudo”. “Somos uma empresa de engenheiros”, diz ele, rindo. A principal métrica, explica, é a da preferência do brasileiro por produtos da Intel em promoções relacionadas ao campeonato. Segundo ele, a geração de atenção (ou “awareness”, no jargão publicitário) é secundária porque o público de eSports geralmente já conhece a marca.
“É algo que a gente mede ao longo do ano e vemos se está trazendo retorno ou não nas ações que fazemos. Claro que não dá para isolar e dizer que foi só o IEM”, explica, mencionando outras ações de vendas distribuídas ao longo do ano.
“O indicador final são as vendas. Não só na Black Friday ou nas unidades vendidas no nosso estande do IEM, mas também nas promoções online que vão atingir muita gente e fazer o Mercado Livre, por exemplo, ter um resultado legal de vendas”, pondera o executivo. “Obviamente, com isso queremos mexer no ponteiro indicador de preferência do consumidor.”
Marcas e expectativas
Além da marca varejista, é parceira da Intel em ações de venda ao longo do IEM Rio 2024 a Razer, que tem produtos expostos no estande e patrocinará ações com influenciadores, e a Acer (por meio da marca gamer Predator). Com essa última, a Intel espera mostrar a 14ª geração de processadores Core Ultra, considerada um lançamento recente no País e que acaba de desembarcar também nos desktops.
“Não é um evento de lançamento, mas é um lugar em que podemos mostrar em primeira mão os novos processadores”, explica o executivo.
A fabricante de periféricos Logitech G, a loja de skins White Market, a tradicionalmente presente DHL e a cidade gamer saudita Qiddiya, entre outros players não-endêmicos (curiosamente, as forças armadas dos EUA são um deles), também são patrocinadores do IEM.
Sob o ponto de vista da competição, Guto explica que o objetivo é ter “um campeonato de sucesso como foi o de 2023”, e que os times brasileiros “cheguem longe, de preferência ganhando”, diz, rindo.
“Nós torcemos para o desempenho dos times brasileiros porque isso ajuda muito a atrair o público”, diz ele, sem disfarçar, mas ressaltando que isso também aumenta o espetáculo dado pela torcida. “É o que marca os estrangeiros que vem para cá”, salienta.
“E queremos plantar essa semente na região da América Latina para fazer com que o evento tome uma dimensão maior que a do Brasil, a regional, e eventualmente até crescendo para outros países no futuro”, conjectura Guto a respeito do futuro do IEM.