Globant projeta crescimento da estrutura de games, inclusive no Brasil

Atualmente com cerca de 60 profissionais no País, empresa de origem argentina aposta no outsourcing como ‘trunfo’ para crescer entre triplo As
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Rafael Martins. Foto: Divulgação, Globant

Fundada em 2002 em Buenos Aires, na Argentina, a Globant é muito conhecida no mundo corporativo pelos serviços de consultoria e pelo desenvolvimento de projetos de inteligência artificial e realidade virtual, entre tantas outras tecnologias consagradas e emergentes. A parte curiosa é que a empresa, que ultrapassou US$ 2 bilhões em faturamento em 2023 e tem mais de 29 mil funcionários no mundo, tem um longo histórico de atuação no mercado de games.

São mais de dois mil profissionais alocados no estúdio (como são chamadas suas estruturas internas) de games da Globant ao redor do mundo, inclusive no Brasil, onde são cerca de 60 profissionais – com expectativa de serem muitos mais nos próximos anos. Outra parcela significativa de profissionais de outros estúdios internos atua em games de forma indireta, prestando serviços de conectividade e engenharia, por exemplo.

A empresa também tem ofertas que vão da produção de arte e ilustração até vídeo e desenvolvimento em motores gráficos diversos, inclusive para realidade virtual e aumentada, passando por suporte a serviços online, entre outros aspectos cruciais de um game moderno.

“A maior parte dos projetos do estúdio de games [da Globant] tem relação com empresas de grande porte. EA, Ubisoft, Warner, Epic, Zynga, uma série de outras”, explica Rafael Martins, diretor técnico de games da Globant, em entrevista exclusiva ao The Gaming Era. “E também as não tão grandes, em que geralmente são projetos mais pontuais.”

Apesar de não ser dona de nenhuma propriedade intelectual própria, a empresa argentina participa de projetos de games AAA diversos. Ubisoft, Electronic Arts, Epic Games e Warner são alguns dos clientes mais destacados da Globant. A empresa trabalhou em títulos como Hoghwarts Legacy, Back 4 Blood e Fortnite, para citar só alguns.

O próprio Martins tem um histórico longo no mercado de games. Formado em computação, o executivo tem pouco mais de 20 anos de carreira em jogos, sendo parte expressiva trabalhando na Electronic Arts, criando games mobile. Também foi professor de desenvolvimento de jogos na faculdade de tecnologia paulistana FIAP.

Na entrevista a seguir, o executivo fala um pouco da atuação da Globant no mercado de games e da expectativa de crescimento da empresa nesse segmento no Brasil.

The Gaming Era: Desde quando a Globant atua no setor de games?

Rafael Martins: Há bastante tempo. Acho que um dos primeiros clientes de relevância foi a Electronic Arts, há quase 15 anos. Desde então a empresa tem crescido e aumentado a carteira. Em todos os jogos da franquia FIFA (agora EA SPORTS FC), por exemplo, a Globant tem um dedinho.

TGE: Que serviços a empresa oferece atualmente?

Martins: A Globant não tem uma IP própria, fazemos a venda de serviços. Alguns não são tão relevantes, como design de áudio. Outros são maiores. Fazemos desenvolvimento 2D, 3D, arte, gestão de projetos, testes, live services, DevOps, toda operação em volta dos jogos.

Também trabalhamos em projetos de metaverso, “smart toys”, gêmeos digitais, projetos que envolvem realidade aumentada e virtual, jogos mobile. Somos bem agnósticos e atuamos em todas as vertentes.

Hogwarts Legacy: um dos games que contou com desenvolvimento da Globant

A maior parte dos projetos do estúdio de games tem relação com empresas de grande porte. EA, Ubisoft, Warner, Epic, Zynga, uma série de outras. E também as não tão grandes, em que geralmente são projetos mais pontuais, ou provas de conceito, ou o desenvolvimento de funcionalidades específicas.

Muitas vezes somos contratados para projetos maiores, que tem centenas de pessoas envolvidas e ciclo de vida mais longo.

TGE: Vocês são mais conhecidos pelos projetos de tecnologia para empresas. Os projetos do estúdio de games também acabam sendo contratados por companhias de outros segmentos?

Martins: Grande parte dos orçamentos e pedidos de projeto que recebemos, o que a gente chama de pre-salles, são de empresas de fora do setor de games. Ou são de gamificação ou para aplicar técnicas de jogos na indústria. Ou uma experiência mais imersiva para determinada função dentro da empresa.

A primeira explicação para isso acontecer é a por conta da democratização das ferramentas. Unity, Unreal, entre outras, estão mais abertas, com menor curva de aprendizado. Isso permite que departamentos de pesquisa e desenvolvimento busquem criar produto nessa linha, e quando elas não conseguem recorrem à Globant.

Além disso a inteligência artificial, Big Data, aprendizado de máquinas etc, fazem parte da indústria de games. Ela já adotava IA em agentes inteligentes nos jogos, e a tecnologia agora está sendo aplicada em outras áreas.

TGE: Onde ficam a maioria dos funcionários da Globant que atuam com games? Quantos estão no Brasil?

Martins: Somos quase 2 mil em games. A maior parte está na Argentina, mas também no Uruguai, EUA, Polônia, Brasil, Índia, e alguns outros países. Nosso estúdio no Brasil tem pouco mais de 60 pessoas, com a ideia de que cresça ao longo dos próximos anos.

Queremos ter mais projetos em que os brasileiros sejam alocados e tenham relevância. E também queremos oferecer mais vagas [em games] para o mercado brasileiro.

O estúdio de games está dentro do nosso “guarda-chuva” de criatividade. Não é o maior estúdio da Globant, alguns tem quase 10 mil pessoas, mas atendemos clientes de nichos mais corporativos.

Mas eu acredito que a tendencia é crescer não só em games, mas em entretenimento no geral.

TGE: O setor de games não teve um 2024 particularmente positivo, com muitos lay-offs e reestruturações. Por que você acredita que vai ser diferente para a Globant?

Martins: A confiabilidade da Globant frente aos clientes tem amentado. E sempre surgem novas vagas [de trabalho] nos clientes e oportunidades [de negócio]. Com essa diminuída na marcha de contratações nos [grandes] estúdios, abriu-se oportunidade para empresas que prestam outsourcing no geral. E isso significa que podemos dar passos maiores dentro dos nossos clientes.

TGE: Isso inclui o estúdio brasileiro? Que dificuldades vocês encontram por aqui para fazer o estúdio de games crescer na operação da Globant no Brasil?

Martins: Tem um pouco de tudo em se tratando de dificuldades. Claro que fatores econômicos, modelos de negócio, de contratação etc. São pontos que sabemos que atrapalham não só uma empresa de games, mas qualquer outra indústria. Não é muito fácil achar um profissional de Unreal nível sênior no Brasil, por exemplo.

Mas as empresas que oferecem vagas preenchem. Eu vejo essa evolução estando há 21 anos na indústria. O nosso mercado era muito generalista, mas com o passar do tempo as empresas cresceram e temos mais nichos de carreira. Não temos só vagas para programador sênior, mas também de gráfico, interface, artes etc.

TGE: A Globant participou com estande da Gamescom Latam em junho, aqui em São Paulo. Foi uma participação positiva? Quais eram os objetivos de vocês?

Martins: O primeiro era nos posicionarmos melhor no mercado. Que dissessem ‘olha, a Globant faz games’. Fizemos isso e o pessoal ficou bem empolgado.

O segundo objetivo era recrutar. Queríamos conhecer mais pessoas, e o nosso time fez um bom trabalho.

Tivemos um painel e a discussão foi sobre como é desenvolver jogos mobile triple A. Jogos grandes costumam ter problemas em celulares, seja por desempenho gráfico ou para aquisição de jogadores. Tentamos levar um pouco do conhecimento de foi feita a transição dos games para os smartphones, que a gente chamou de gaming phones, os dispositivos capazes de rodar jogos AAA.

Levamos um pouco dessa visão técnica de como é o desenvolvimento, e também os riscos de fazer um jogo maior para dispositivos móveis.

TGE: Aproveitando que você tem um longo histórico com desenvolvimento mobile: os fabricantes de dispositivos móveis tem apostado mais na capacidade desses aparelhos rodarem jogos triplo A. A Apple foi uma dessas, mas não obteve resultados tão bons. Você acha que essa é mesmo uma tendência?

Martins: Eu quero acreditar muito nela. Eu sou apaixonado por dispositivos móveis. O segundo ponto é o poder gráfico dos smartphones. O último iPhone é mais potente que um Nintendo Switch, mas tem outros problemas, como bateria, superaquecimento, memória.

Um console só serve para isso, o celular não. Mas eu acredito que sim, a evolução das ferramentas e game engines vai facilitar a portabilidade. Acredito sim que os jogos têm potencial para serem “super hits” nos dispositivos móveis.

TGE: As perspectivas para 2024 e 2025 são, então, positivas para os games não só na Globant, mas no mundo?

Martins: Apesar do receio de que outros estúdios façam demissões ou mudem estruturas nesse período pós-pandemia, temos uma perspectiva boa. A relação com os clientes é bem sólida, a criamos oportunidades nos clientes que estão conosco há 10, 15 anos.

A Globant não passou por nenhum momento de demissões, a área está sempre bem estruturada, recebendo novos funcionários. Temos conseguido manter e até crescer times nos clientes. Então minha perspectiva é boa.

O mercado internacional está olhando melhor para o mercado brasileiro. A Gamescom Latam foi muito boa, temos desenvolvedores criando jogos muito bons, as empresas estão vindo para cá conhecer o mercado e traçar o perfil dos nossos jogadores.

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