EXCLUSIVO: diretor de Star Wars Outlaws queria de volta essência da trilogia original

Conversamos com Julian Gerighty, diretor criativo da Massive Entertainment, sobre as opções criativas feitas no novo game de Star Wars
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Julian Gerighty, diretor criativo de Star Wars Outlaws. Foto: Divulgação, Ubisoft

Quando um produto Star Wars chega ao mercado – seja um novo filme, série, game, quadrinhos ou mesmo um action figure – existe uma máxima: o nível de exigência dos fãs é proporcional à expectativa de retorno financeiro daquele lançamento. Não por caso, a Disney, atual dona da saga, convive com o desafio de levar essa jornada adiante entre muitas críticas e alguns elogios.

Em recente reportagem da Forbes, análises de demonstrações financeiras apresentadas comprovam que a empresa ainda não conseguiu cobrir os custos de compra da LucasFilm, de US$ 4 bilhões, há 12 anos.

Da mesma forma que acontece com os filmes e séries, os videogames de Star Wars também enfrentam esse desafio. O fiasco e glória estão lado a lado. E é justamente o que está vivendo agora os estúdios da Ubisoft e a Lucasfilm Games com Star Wars Outlaws, novo game da franquia desenvolvido pela Massive Entertainment.

O jogo, que aliás tem acontecimentos considerados canônicos e se passa entre os episódios 5 e 6 (O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi), quer pelo menos manter o mesmo patamar dos últimos games da saga. Jedi: Fallen Order e Jedi Survivor foram ambos desenvolvidos pela Electronic Arts.

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Imagem de divulgação de Star Wars Outlaws coloca protagonistas em evidência

A Ubisoft ainda não divulgou faturamento ou vendas do game nos primeiros dias de comercialização de Outlaws, lançado oficialmente na última sexta-feira (30). Mas a expectativa é enorme para o produto, que levou cinco anos para ser desenvolvido e tem a audácia de mesclar elementos de gameplay em mundo aberto, shooting, stealth, exploração, RPG e, para mim a escolha mais corajosa, a ausência de jedis e sabres de luz.

O TGE está fazendo um review de Outlaws que será publicado em breve, mas a coluna vai além e traz uma entrevista exclusiva com Julian Gerighty, diretor criativo da Massive Entertainment.

A Massive é um estúdio sueco comprado pela Ubisoft em 2008 após ter trabalhado em jogos como Ground Control e World in Conflict. Também contribuiu com outros games da própria Ubisoft terceirizando desenvolvimento, incluindo Far Cry 3 e Assassin’s Creed Revelations. Mas o estúdio é conhecido mesmo por Tom Clancy’s The Division, série de jogos de tiro em terceira pessoa multiplayer iniciada em 2016.

Para Gerighty, a grande sacada de Star Wars Outlaws é trazer de volta a essência dos três primeiros filmes da franquia, voltados para a família, de um jeito leve e emocional. Gerighty detalha os caminhos de lore e decisões criativas do game na entrevista logo abaixo.

A franquia Star Wars tem inúmeros capítulos nos games, em diversas publishers. É um universo com muitos fãs, ou seja, não são só os jogadores de olho. Considerando isso, o que foi mais desafiador na produção do zero de um game dessa franquia?

Julian Gerighty: Fazer games é muito difícil, não importa se é Star Wars ou outra franquia. É sempre muito difícil. Com SW eu acho as decisões criativas começaram quando pensamos em que tipo de game fazer. Da Massive saiu da The Division e eles [o time] estavam muito animados para trabalhar com Star Wars.

Desde o começo decidimos fazer um jogo diferente, com elementos de RPG em um mundo aberto. Mas como fazer algo de mundo aberto e focado no jogador e na ação? Como explorar esse ambiente selvagem, e os planetas de Star Wars?

E depois identificar qual o desejo perfeito dos jogadores para explorar. E decidimos que não seria uma história sobre jedis, ou rebeldes, mas sobre o submundo, sobre canalhas, ladrões. Enquanto um fora-da-lei você quer ter liberdade para explorar o mundo, e partir daí introduzimos as naves, speeders etc.

Vocês acreditam que, se o game fizer sucesso, essa linha de lore ligada ao submundo do contrabando de Star Wars pode crescer? Em resumo, teremos um Outlaws 2 no futuro?

Gerighty: Para mim é um universo muito rico, por isso decidimos fazer Outlaws. Você tem os sindicatos, o império, a popularidade que é preciso conquistar no mundo do crime. Muitas coisas que podemos explorar em termos de gameplay: shooting, exploração. Tudo que é um desejo dos jogadores.

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Furtividade na nave imperial. Imagem: Divulgação

Mas tem uma coisa interessante. Com o submundo e os sindicatos do crime o tom do game poderia ter sido muito sombrio. Mas o que queríamos fazer é trazer de volta o clima da primeira trilogia de Star Wars, que é muito brilhante, emocional, e é para todo mundo.

O George Lucas pensou originalmente em um tom de ação, muito baseado em filmes family friendly [para toda família] muito familiares para quem cresceu nos anos 1970 e 1980. O grande filme de família que é assustador, engraçado, cheio de aventura.

Eu acho que conseguimos. Foi muito legal reconstruir o Star Wars que amo.

Os últimos games da franquia foram bem variados em termos de gameplay: aventura, estratégia, soulslike etc. Como foi a decisão de escolher uma linha mais ligada à furtividade e aventura? E por que tomar essa decisão?

Gerighty: Eu acho que para nós o core é sobre como age um fora-da-lei e o que ele precisa fazer. Não é sobre um gênero exclusivo de como um game deveria ser, mas de uma a estrutura de mundo aberto em que precisamos fazer várias coisas muto bem: tiro, furtividade, exploração, escalada, dirigir o speeder, pilotar uma nave. Tem uma lista de coisas que precisávamos fazer muito bem para tornar o jogo gostoso. Por isso misturamos muitos gêneros diferentes.

Quantas pessoas trabalharam em Star Wars Outlaws?

Gerighty: Quando começamos éramos quatro, há cerca de quatro anos atrás. No ápice foram aproximadamente 650 [pessoas]. Tanto da Massive Entertainment na Suécia como de outros parceiros. Tivemos parceiros em Paris e Bucareste [de estúdios da própria Ubisoft] que fizeram um trabalho fantástico.

Eu acho que para os padrões da Ubisoft não é um time tão grande, comparativamente não é tão grande. A dificuldade é encontrar similaridades entre todos os times e meu trabalho foi fazer com que todo mundo estivesse fazendo o mesmo jogo. Tem que haver uma comunicação muito clara, com priorizações muito claras.

Você diz que não era um time tão grande para os padrões da Ubisoft, mas me parece grande o suficiente para ser desafiador.

Gerighty: Sem dúvida é grande. Mas desde o começo havia uma direção muito clara a ser seguida, sem mudar essa direção, e mantivemos todo mundo focado em construir a mesma coisa: em como ser um bandido e ter a oportunidade de explorar a galáxia. A parte mais crítica é ter certeza que todo mundo está indo na mesma direção.

O universo de Star Wars é grandioso e cheio de lore. Os filmes e as séries mais atuais também influenciaram o game? As histórias serão conectadas?

Gerighty: Antes de começar a trabalhar com Star Wars eu achava que sabia o que é Star Wars, mas quando começamos [o jogo] percebi que era algo colossal. Nós não decidimos em que timeline o jogo se passaria, foi uma sugestão da Lucasfilm.

Vídeo: Canal Ubisoft Brasil, YouTube

Nós queríamos um jogo com scundrels. E eles sugeriram esse período [entre O Império Contra-ataca (1980) e Retorno de Jedi (1983)]. Eu pessoalmente fiquei muito feliz porque cresci vendo aqueles filmes.

Esses personagens, planetas, as coisas que criamos para o jogo, a Lucas Films vai tornar parte de Star Wars. Então eles podem usar nos filmes e na TV, e eles vão encaixar de forma lógica.

Eu já sei que alguns dos nossos personagens vão aparecer nos quadrinhos da Marvel [a editora é atualmente responsável pelas HQs da franquia].

Se você pudesse dar uma dica para quem for jogar, para que o jogador curta ainda mais Star Wars Outlaws, qual seria?

Gerighty: Uma coisa pela qual sou apaixonado é ter a certeza de que todo mundo que queira jogar, não importa o nível de experiência ou deficiências, possa aproveitar e terminar o jogo. Temos muitas opções de acessibilidade para melhorar a experiência. As dificuldades podem ser reduzidas ou customizadas. Isso era muito importante.

Sobre o jogo, a minha dica é: leve seu tempo. Aproveite a galáxia. Entre na galáxia, pegue um banco na cantina, escute a banda, compre comida no mercado, aproveite o tempo.

Você quer dizer que Star Wars Outlaws é um jogo contemplativo também, não só de ação e exploração?

Gerighty: Esse é um pensamento legal sobre jogos de mundo aberto. Você decide o ritmo. Se você vai fazer aquela campanha que vai te levar para o outro lado da galáxia, ou se vai se sentar em uma cantina e só ouvir música.

* colaborou Marcelo Gimenes Vieira, editor-chefe do The Gaming Era

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