O papel das criptomoedas nas microtransações de jogos eletrônicos

Moedas digitais ganham atratividade no mercado de games, mas há riscos para jogadores e gamedevs, escreve Yan Viegas
criptomoedas, criptoativos
Foto: Canva

Nos últimos anos, os criptoativos têm ganhado destaque como uma tecnologia revolucionária. Dentre o universo de ativos virtuais, as criptomoedas recebem especial atenção e notoriedade, tendo como expoentes o bitcoin (BTC) e a ether (ETH), com a finalidade de replicar as funções de moeda, servindo como meio de troca. 

Em paralelo à ascensão das criptomoedas, a indústria de jogos eletrônicos tem observado um crescimento expressivo no modelo de monetização denominado como microtransação. As microtransações correspondem a pequenas compras realizadas dentro dos jogos eletrônicos, permitindo ao player adquirir itens, créditos, passes ou outras vantagens que visem customizar seus personagens.

A adesão a este modelo tem permitido que muitos jogos gratuitos (free-to-play) alcançassem receitas bilionárias, como é o caso de jogos como Fortnite ou FC (antigo Fifa). 

A relevância das microtransações é tamanha que recebeu destaque no recém sancionado Marco Legal dos Games (Lei nº 14.852/2024), tendo o legislador previsto que os riscos relacionados ao uso de microtransações serão relevantes para a classificação etária dos jogos. Há casos de jogos multiplayer online cujas microtransações fomentam uma economia interna, passível de conversão e aferição de lucros reais. 

Contudo, com o avanço tecnológico, os métodos de pagamento tradicionais, como cartões de crédito e plataformas de pagamento, têm apresentado certas limitações para acompanhar a demanda e se adaptar à dinamicidade dos novos produtos. Por outro lado, as moedas digitais, que utilizam de tecnologia blockchain, ganham destaque e atratividade para o mercado de jogos eletrônicos. 

É esperado que as criptomoedas tenham um papel importante na infraestrutura da web 3.0, no qual visa criar um ambiente descentralizado, com uso de smart contracts e com maior integração entre plataformas.

Dentre as vantagens das criptomoedas, citam-se como principais características a velocidade, a segurança e o baixo custo das transações. 

A tecnologia blockchain proporciona uma camada adicional de proteção contra fraudes ao utilizar o compartilhamento de dados por participantes independentes na rede, sem a centralização ou mesmo intermediação de uma instituição. Diferentemente das tecnologias de pagamento tradicionais, não há compartilhamento de dados pessoais ou dados financeiros, como contas bancárias ou números de cartões, para efetivação da transação. 

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Não obstante, no mundo atual, a relevância das criptomoedas nas microtransações está pautado em sua característica transfronteiriça e na possibilidade de integração dentro de sistemas. As criptomoedas não estão sujeitas às mesmas restrições geográficas que as moedas fiduciárias, o que permite aos jogadores de qualquer parte do mundo realizarem transações sem se preocupar com taxas de câmbio ou a disponibilidade de métodos de pagamento locais, ampliando o acesso ao mercado de jogos a um público internacional.

A integração das criptomoedas com tokens não-fungíveis (NFTs) e com a economia real apresenta vantagens aos jogadores, sobretudo aqueles que utilizam as trocas dentro dos jogos como meio de renda.

No cenário tradicional, a negociação de um item dentro de um jogo passa por várias fases, incluindo a aquisição de créditos, compra do item, negociação com terceiros, transferência do item entre personagens e, finalmente, a transferência do recurso financeiro na vida real. Neste último passo, há ainda necessidade de confiança no terceiro de que o recurso será repassado em moeda real e a transação será concluída. 

Com o uso de criptomoedas, os riscos de golpes são mitigados, na medida em que a mesma criptomoeda, integrada a um jogo online, permitirá que a aquisição do item e a venda a terceiros sejam realizadas com a mesma moeda de troca. Assim, o jogador poderá converter a criptomoeda em moedas nacionais através de exchanges, sem depender da idoneidade da contraparte na negociação. 

Entretanto, a adesão às criptomoedas em microtransações também apresenta desafios no atual cenário brasileiro. A exceção das stablecoins, que possuem lastro em ativos reais, como, por exemplo, o dólar, e, portanto, projetada para acompanhar as oscilações do ativo de referência, as criptomoedas sem lastro sofrem de alta volatilidade, gerando incertezas quanto aos valores dos produtos e dificultando as transações dentro dos jogos.

Cita-se como exemplo o caso da moeda Axie Infinity (AXS), que chegou a valer mais de US$ 160 em seu ápice e hoje é negociada em módicos US$ 6

A regulamentação pelo estado e seus impactos ao ecossistema também é uma preocupação. No Brasil, a Lei nº 14.478/2022 apresentou os princípios, conceitos e diretrizes referentes aos ativos digitais, delegando ao Banco Central do Brasil a responsabilidade de regular o mercado e as entidades prestadoras de serviços de ativos virtuais.

Contudo, após quase um ano de sua entrada em vigor, ainda não foi apresentada pelo Banco Central a regulamentação aplicável ao setor. 

Apesar dos desafios e complexidades a usuários não habituados com estas tecnologias, o futuro das criptomoedas nas microtransações de jogos eletrônicos é promissor. A constante evolução deste mercado e a busca por novas soluções buscam mitigar os problemas atuais.

A integração destas tecnologias será a chave para que inúmeras possibilidades de interação e monetização dentro dos jogos eletrônicos se abram, com o potencial de beneficiar tanto jogadores quanto desenvolvedores.

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