O que levou a Daten Tecnologia, fabricante baiana de computadores com mais de 20 anos de mercado e conhecida principalmente pelos imensos contratos de fornecimento para grandes empresas e governos, a investir em uma divisão de PCs gamers? “Oportunidade”, é a razão pragmática apontada pela empresa para a fundação da NAVE em fevereiro de 2020, embora estudasse a entrada nesse mercado pelo menos desde 2015.
Se você é um leitor atento a datas, vai perceber que o negócio gamer da Daten nasceu em um momento crítico – a festa de pré-lançamento da marca foi inclusive cancelada por conta da pandemia de COVID-19, que chegava ao Brasil naquele exato mês. Embora não seja um período a se comemorar, é inegável que as vendas de equipamentos gamers simplesmente explodiram no período, e a NAVE já nasceu vendendo acima do esperado.
“Com a pandemia [as vendas] deram um pulo, mesmo sendo uma marca nova e a Daten não sendo conhecida do grande público. Hoje o público final conhece até mais a NAVE que a Daten”, brinca Ivam Bastos Junior, líder da divisão de consumo e gaming da empresa, em entrevista exclusiva concedida ao The Gaming Era. “Você sai do zero e passa a vender milhões, é um crescimento absurdo.”
Quatro anos depois e após um breve período de sedimentação da marca, a NAVE cresce de 20 a 25% por semestre, segundo o executivo, após um pico de até 30% no período mais aquecido da pandemia. “Esse ano meu planejamento é dobrar o faturamento obtido em 2023”, diz Bastos Jr. “Provavelmente deve chegar perto disso em vendas.”
Muito embora não revele números exatos, o executivo admite que a representatividade da NAVE ainda é pequena no faturamento total da Daten, que geralmente assina contratos de fornecimento milionários com governos e grandes companhias. Mas essa proporção tem crescido, assegura.
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Para a empresa, se trata de um aprendizado. Afinal, agora é necessário ouvir as necessidades do grande público, não de executivos de tecnologia corporativos. “O gamer sabe o que compra, sabe o que quer, muitos montam suas próprias máquinas”, ressalta o líder da Daten, lembrando o intenso trabalho de grupos focais (focus groups) feito antes do lançamento da marca NAVE. “Nós nascemos ouvindo o público e especialistas e vamos continuar.”
Decolando a NAVE
Mesmo o momento atual de “rebote” da pandemia, com os consumidores de games consumindo menos e tendo que voltar ao trabalho presencial, ou seja, com menos tempo para jogos, não tem diminuído o crescimento da NAVE, diz o executivo. Mas para alcançar as metas de crescimento a empresa baiana planeja uma série de ações, incluindo equipamentos mais tecnologicamente avançados e um aumento da rede de canais de venda.
“Somos otimistas com o pé no chão”, diz Ivam Bastos Jr. “Devemos nos abrir muito mais para os marketplaces. A gente já esteve [neles] no passado, mas [de forma] muito incipiente. Agora devemos ser mais agressivos.”
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No que diz respeito aos produtos, a empresa deve continuar se concentrando em desktops e notebooks com as tecnologias mais atuais de parceiros como Intel, Nvidia e AMD, além da Microsoft. O trabalho com eles é o mesmo que já vinha sendo executado pela “empresa mãe” Daten, e inclui certificações Gold e Platinum obtidos há anos.
No portfólio da NAVE estão, além de notebooks e desktops voltados para o mercado gamer, máquinas para profissionais como designers, arquitetos e videomakers – que são cerca de 40% do público dos computadores de alto desemprenho, diz Bastos Jr. São PCs com configurações diferentes, assegura, com “configurações mais equilibradas.”
Desenvolvedores de games também são um público em potencial. Um estúdio fez recentemente uma compra de 40 máquinas, conta o líder. “O desenvolvedor [de games] quer o mais ‘top’. Querem CPU potente, mas GPU ainda melhor. Principalmente com a IA agora, que pede muita GPU e é o grande foco das produtoras de chips.”
Montando no Brasil
A fabricação nacional também é considerada um “pulo do gato” para as ofertas da NAVE. Além da linha de produtos acabados em Ilhéus, na Bahia, a empresa tem uma unidade fabril para componentes na Zona Franca de Manaus, em que são montadas placas mãe, memórias e SSDs, por exemplo.
“É a mesma estrutura [da Daten]. Mas a linha de produção é diferente. A equipe que fazendo Daten não é a mesma que está fazendo NAVE”, assegura o executivo, que admite a dificuldade de ser uma marca nacional em meio à tantas importadas.
“O público brasileiro dá um pouquinho mais de valor para o que é importado, isso também é um desafio. Mostrar que somos tão bons quanto as marcas multinacionais.”
Para o executivo, é difícil fabricar no Brasil por conta dos custos elevados e dificuldades logísticas para obtenção de insumos e distribuição de produtos. Mas parte do objetivo de crescimento não é alcançado com computadores, mas sim com uma rede de assistência técnica de qualidade, bom atendimento e componentes de qualidade.
“Tem dado certo”, assegura o executivo. “É uma construção de marca. Não vamos nos lançar hoje e ser a [marca] número um em cinco anos. É passo a passo. Algo difícil e árduo. Cada dia um tijolo.”