Apesar do mal-estar geral no mercado de games, e por tabela a percepção de redução de investimentos feitos por grandes anunciantes nos eSports, o massivo aporte feito pela Ubisoft na realização do Invitational 2024 de Rainbow Six Siege em São Paulo demonstra o apetite da publisher francesa. Conforme apurado pelo The Gaming Era, a editora investiu US$ 5 milhões somente na realização do campeonato no Brasil, e ainda distribuiu outros US$ 3 milhões em prêmios – esse último valor, aliás, é público.
As finais aconteceram no Ginásio do Ibirapuera, na capital paulista, entre sexta (24) e domingo (26). Foram transmitidos por uma série de grandes canais brasileiros e internacionais.
A grande final, que lotou as arquibancadas do estádio, foi vencida de virada pelo w7m em cima da FaZe. O jogo já era histórico por ser uma decisão entre equipes brasileiras pela primeira vez em território nacional, mas a empolgação da torcida e o título do w7m após uma vice-liderança na última edição e duas vitórias em majors tornaram o evento mais especial.
Além de levantar o martelo-troféu do título, a w7m embolsou U$ 1 milhão (R$ 4,9 milhões). A FaZe, com o vice, levou US$ 450 mil.
Os executivos da Ubisoft ouvidos pelo TGE durante o evento já passavam a impressão de sucesso antes mesmo do fim das finais paulistanas. Para eles, trazer o evento ao Brasil é uma “retribuição” do engajamento da comunidade brasileira de Rainbow Six.
Afinal, o País lidera o ranking global de premiações do jogo, com US$ 9,7 milhões arrecadados desde 2017, à frente de Estados Unidos (U$ 7,5 milhões) e França (U$ 3,6 milhões). Dos 20 times que participaram do Invitational, cinco são brasileiros. Além disso, o Brasil tem 4 milhões de jogadores de Rainbow Six Siege. Mas não são só eles que ganham.
“Em um evento como esse, temos tanta oportunidade de conversar. É um jeito de avisar a indústria que estamos aqui no Brasil”, me diz Nelson Garcia, diretor associado de eventos e transmissão de eSports da Ubisoft, alguns dias antes da grande final. “[Realizar o evento no Brasil] é muito bom em termos de bandeira e negócios.”
O custo de realização do torneio no Brasil não é, segundo ele, diferente do de outros países, apesar do “comitê de realização enorme”, grande parte dele brasileiro. As dificuldades logísticas são as mesmas, assegura ele, uma vez que São Paulo é um grande centro logístico global.
“O desafio é internacional. Somos uma empresa com sede em Paris, então é mais ou menos o mesmo desafio”, diz o executivo. “É difícil na hora de importar os eletrônicos necessários, mas é basicamente isso. São Paulo é uma grande cidade, você encontra tudo que precisa.”
Globalmente, foram cerca de 900 pessoas envolvidas na realização do Invitational brasileiro. “É o maior evento que fazemos”, diz ele, ressaltando que o brasileiro tem “a cultura de celebrar”. Apesar disso e do sucesso do evento no Ibirapuera, Garcia não confirma a realização de um próximo evento de Rainbow Six no Brasil em 2025. “Vamos considerar”, se resume a dizer, com um sorriso no rosto.
Six Invitational e parcerias
Chris Early, vice-presidente sênior de parcerias estratégicas e desenvolvimento de negócios globais da Ubisoft, conversou comigo em reservado durante o Invitational 2024. Ele é responsável por, segundo ele próprio entre risos, “vender de tudo para a Ubisoft, menos os nossos jogos”.
“Eu e meu time estamos sempre procurando novas fontes de receita, seja dentro dos jogos ou fora, nas competições. É mais do que apenas vender um logo em uma parede, porque o engajamento faz bem para a marca”, pondera Early, que também é responsável por parcerias técnicas com fabricantes de hardwares e plataformas.
Para o Six Invitational, a Ubisoft amealhou sete parceiros – dois deles antigos, a Eureka Ergonomics (cadeiras gamers) e a CTRL (alimentos) – e os outros cinco novos – Intel, Lenovo, JBL, Kingston e Aura. O critério de busca ativa da editora francesa para firmar acordos dessa natureza, segundo o executivo, é que as marcas vejam “valor em estar na competição”.
Para ele, apesar da impressão de queda nos investimentos globais em eSports, os “dias de boom não passaram”. Mas ele reconhece que as marcas estão em “um momento de precaução, mas não só nos eSports. Agora o próprio consumidor está um pouco mais cauteloso e vale para a Ubisoft também: somos cautelosos sobre como gastamos nosso dinheiro”.
Early ressalta a importância dos parceiros do Six Invitational 2024 e a possibilidade de dividir as despesas de realização do evento, mas ressalta que a Ubisoft “investiria de qualquer maneira”. Ou seja, não se trata de uma oportunidade de ganhar dinheiro, mas sim de “trazer um senso de realismo e validação” e “impulsionar a criatividade”.
Durante o evento, os parceiros ofereceram uma série de experiências aos fãs de Rainbow Six. A JBL, por exemplo, disponibilizou headsets para testes do público durante as finais, e a Lenovo laptops gamers para que os fãs testassem novos conteúdos e o próprio jogo. A Intel promoveu um meet & greet com os Pro-Players. E a conectividade do torneio foi fornecida pela Aura por meio de fibra óptica.
“O Brasil é um dos top 10 mercados para a Ubisoft. Tanto do ponto de vista de negócios como dos jogadores. Estamos fazendo negócios aqui há 10 anos”, ressalta Early sobre a importância do mercado local.