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‘Manual do Japão’: o jeitinho Nintendo de fazer negócios

Diretora de marketing da Nintendo na América Latina, Romina Whitlock revela táticas para lidar com a intensidade dos ‘nintendistas’ brasileiros
Romina Whitlock, Nintendo, Gamescom Latam
Romina Whitlock durante a Gamescom Latam. Foto: Divulgação

O clima é de caos organizado nos bastidores do estande da Nintendo na Gamescom Latam. Na sala apertada e pouco iluminada, acessível somente para pessoas credenciadas e/ou vestidas com camisetas vermelhas, assessores e colaboradores tentam manter a pontualidade do cronograma de entrevistas para a imprensa no primeiro dia oficial do evento.

Em meio ao barulho ensurdecedor dos fãs do lado de fora, Romina Whitlock está sorrindo como se estivesse em casa. Atuando há anos como diretora de marketing da Nintendo para a América Latina, ela está acostumada a liderar empreitadas como essa.

“Desde que voltamos oficialmente, fomos crescendo lentamente. Primeiro, trouxemos de volta a eShop, depois os consoles. Agora estamos trazendo os jogos e também fazendo a localização dos games”, ela conta, listando os feitos da Nintendo no País desde “a retomada”, como pode ser interpretado o pacote de iniciativas da empresa no Brasil a partir de 2020.

LEIA AQUI: Tudo de importante da Gamescom Latam 2024

Esse projeto, obviamente, também inclui participações em encontros presenciais com o público consumidor. Mesmo antes da pandemia, uma ativação da Nintendo já era visão típica para visitantes de eventos temáticos como a Brasil Game Show.

Este tem sido o caso também do BIG Festival: nesta edição 2024, devidamente rebatizada com a marca alemã Gamescom, a participação da mais tradicional empresa dos videogames foi uma das principais atrações, com seu tradicional estande apinhado de fãs em busca de brindes, fotos com mascotes e games de Nintendo Switch para experimentação.

Paixão latina

Romina nasceu na Argentina e trabalha há oito anos na Nintendo of America, operando direto da matriz, em Redmond, no estado de Washington. É de lá que comanda o time responsável pelas ações de marketing que envolvem os engajados fãs brasileiros, os quais a empresa carinhosamente reconhece como nintendistas. Isso inclui administrar as redes sociais da marca, nas quais o público inflamado diz o que pensa e sente, sem medir palavras.

“Eu adoro, porque eles são muito apaixonados e articulam exatamente o que querem e o que precisam. E é isso que nos ajuda a fazer nosso trabalho”, ela explica, relativizando eventuais mensagens não tão positivas endereçadas aos chefões da “Big N”. “Então, é um amor mútuo.”

Romina Whitlock, Nintendo, Gamescom Latam, Pablo Miyazawa
Pablo Miyazawa entrevistou Romina Whitlock também para a PlayTV. Foto: Divulgação

De acordo com Romina, é justamente esse feedback (ou “o carinho da torcida”, nas minhas palavras) que faz com que “coisas aconteçam” – no caso, o cumprimento de uma das principais demandas dos consumidores brasileiros ao longo das décadas: a localização dos jogos para o português brasileiro, especialmente de franquias consagradas, como The Legend of Zelda.

“Isso é o resultado de anos e anos de nintendistas dizendo: ‘Ei, nós precisamos disso aqui!’”, brinca Romina, citando Echoes of Wisdom, o primeiro jogo da série Zelda com legendas PT-BR, anunciado recentemente em um evento digital e com lançamento marcado para 26 de setembro. “E eu sinto que essa [nova] geração de fãs fala tão alto, ou talvez até mais alto, porque eles têm todas as plataformas de mídia social à disposição para falar conosco.”

Pressão da torcida

Aparentemente, o clássico meme “vou xingar muito no Twitter” acaba tendo peso nas decisões atuais da companhia japonesa, principalmente quando se trata de territórios emergentes como o Brasil.

“Como diretora de marketing, eu peço relatórios sobre o que as pessoas estão dizendo nas redes após anúncios ou lançamentos. Para entender o que é dito de positivo, o que me dá oportunidade de melhorar”, ela diz. Com o relatório em mãos, “nós vamos aos nossos chefes e mostramos a lista de oportunidades. Estamos sempre olhando e ouvindo o que os fãs dizem, e qual tom estão usando, porque quero ter certeza de que estamos compreendendo.”

Um dos motivos para a presença da Nintendo na Gamescom Latam foi justamente alardear esses esforços recentes de localização dos principais games para Switch – foram dez títulos até julho de 2024, quantidade que vai aumentar com os próximos lançamentos até o fim do ano: o já citado Echoes of Wisdom, além de Super Mario Party Jamboree e Mario & Luigi: Brothership (“que será nosso primeiro RPG localizado, um gênero que costuma ter bastante texto”, ela diz).

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Para Romina, os pedidos brasileiros por jogos localizados “são mais do que justos” e continuarão a ser o foco da operação da Nintendo por aqui. “Eu tenho filhos e eles jogam em espanhol”, ela explica. “Uma das coisas mais legais dos games Nintendo é que posso jogar com meus filhos. Se eles não conseguirem entender o que está acontecendo, como vamos jogar?”

Questiono Romina sobre os motivos para a paixão antiga e irrestrita do brasileiro pela Nintendo, mencionando conexões óbvias, como os impactos da intensa imigração japonesa há uma centena de anos e a consolidação no país da segunda maior colônia nipônica no mundo. “Talvez tenha algo a ver com isso”, ela concorda, “e também tem uma coisa muito legal sobre a cultura”.

A executiva menciona a humildade típica dos criadores japoneses, mas também destaca características ligadas ao ritmo de trabalho, que estariam alinhadas com a estratégia que a empresa tem aplicado ao Brasil. “Eles [os japoneses] levam as coisas devagar. Eles fazem tudo muito bem, mas vão devagar. E isso é um pouco o que está acontecendo com nossa abordagem no Brasil, comercialmente falando.”

“Estamos seguindo lentamente, mas com muita firmeza e prudência, porque queremos ser sólidos. Não queremos simplesmente fazer as coisas na loucura, sem levar em conta como funciona o mercado e os negócios”, Romina conclui. “Acho que essa é mais uma página do ‘manual japonês’ de como fazer as coisas. É uma empresa que existe há mais de 100 anos, então, eles devem entender como se faz. E eu gosto muito dessa abordagem.”

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